"A Opinião" de Nádia Piazza, na Manhã TSF.
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Cinquenta e três civis mortos, três bombeiros feridos e cerca de 200 pessoas dadas como desaparecidas. As autoridades locais temem que o número de vítimas possa ultrapassar a centena.
O incêndio de Camp Fire, na California, só em Paradise, uma cidade com 27 mil habitantes, destruiu 67 mil imóveis, incluindo um hospital. As últimas atualização confirmam que 80% da cidade simplesmente desapareceu engolida pelas chamas.
Contudo, ainda assim, foram retiradas, com sucesso, 300 mil pessoas de várias localidades.
A causa ainda não foi oficialmente determinada, mas autoridades do setor elétrico informaram o registo de um corte de energia perto do local de origem das chamas, noticiou um jornal de Sacramento.
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Esta tragédia terá, naturalmente, que ser objeto de investigação e análise, mas, apesar da direção da frente do incêndio ter sido prevista com tempo, o que não aconteceu em Pedrógão Grande, houve problemas na evacuação das pessoas. A informação que nos chega refere que o fluxo de saída foi superior à capacidade das faixas de rodagem.
Outra razão para a tragédia deve-se ao facto de nos EUA as construções serem maioritariamente em madeira, com telhados e paredes que não resistem às faúlhas.
Desde os anos 1960, mais de 20 mil novas casas foram construídas no interface urbano-florestal, nos EUA, com materiais inapropriados ao contexto.
Ao contrário do que Trump disse, não foi a falta de gestão florestal a razão maior da catástrofe.
O que ficou evidente, afirmam os especialistas, é: primeiro, a confirmação da necessária ação coletiva na gestão dos combustíveis em torno da casas; segundo, as casas devem ser feitas com tecnologia de construção e materiais resistentes ao fogo e; terceiro, não cair no mesmo erro, isto é, não voltar a construir edificações - ou mesmo cidades - na rota preferencial do incêndio.
A desgraça dos outros, como a que está a acontecer com os mais bem preparados em termos de prevenção e combate - como é caso dos EUA - não banaliza ou relativiza as tragédias ocorridas no ano passado em Portugal.
Estávamos muito mal e ainda estamos mal.
Se não mudarmos o nosso sistema de prevenção e combate e não tratarmos das obrigações que ser proprietário rural acarreta, isto é, gerir a floresta e os matos à volta dos aglomerados populacionais, o que vivemos em 2017 vai voltar a acontecer.
No caso de Portugal, é urgente uma ação no terreno com escala, não podendo a falta de cadastro ou a propriedade privada ser a desculpa. A ação coletiva, em que cada proprietário ou entidade é responsável pelo que é seu, sendo portanto parte da solução, é a única saída possível.
Incêndios como os da Grécia e o da Califórnia devem inspirar-nos a mantermo-nos no caminho da transformação. Aprender - e rápido -, corrigindo as debilidades identificadas no nosso sistema.