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No meio da guerra, o desporto vence pelo exemplo. Ver a seleção da Ucrânia de basquetebol chegar a Córdoba para disputar com Espanha uma vaga no mundial do próximo ano e ser aplaudida de pé pelos adeptos adversários, dá-nos esperança de que o mundo será capaz de se unir contra um criminoso. Da mesma maneira, ver Yaremchuk mostrar o símbolo do seu país quando marcou um golo pelo Benfica e saber que a UEFA, desta vez, fechou os olhos e não castigará o jogador, dá-nos esperança de que ações simbólicas se vão repetir pelo mundo inteiro e Putin acabará por perceber que está sozinho. Saber que há um clube como o Schalke 04 que abdica dos petrorublos em nome da decência desportiva e retirou a propaganda da Gazprom das suas camisolas, dá-nos a esperança de que também a UEFA prescinda do dinheiro russo na Champions, dinheiro que chega através de uma empresa que é o símbolo máximo da corrupção russa.
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Ontem, o New York Times dava conta que vários ex-chefes de governo, em protesto pela invasão da Ucrânia, deixaram conselhos de administração de empresas russas. Alguns, mas não todos. O ex-chanceler da Alemanha Gerhard Schröeder, amigo de Putin, coleciona lugares em várias companhias russas ligadas à energia e lá permanece. O ex-líder do SPD, partido que lidera a coligação no poder na Alemanha, pediu a paz, mas não foi capaz de se colocar contra os que fazem a guerra. Preferiu dividir culpas, apontando o dedo aos "muitos erros - de ambos os lados". O editorial do semanário alemão Die Zeit não poupa palavras: "Esta flagrante compra de um ex-chefe de governo alemão por Putin dificilmente pode ser superada em termos de ignomínia".
Retomemos os bons exemplos, porque dos fracos não reza a história. Matteo Renzi, ex-primeiro-ministro de Itália; Esko Aho, ex-primeiro-ministro da Finlândia ou Cristian Kern, ex-chanceler austríaco prescindiram do dinheiro russo dizendo que não queriam fazer parte da guerra. As seleções da Suécia, Polónia e República Checa recusam jogar na Rússia o play-off de acesso ao mundial do Qatar.