
O BCE não tem muito mais opções para reanimar a economia. A bazuca de Draghi pode afinal ser só uma bisnaga: chateia o alvo, que se afasta um metro para não se molhar, mas depois retoma o percurso.
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O pacote adicional anunciado pelo BCE foi bem recebido pelos mercados, e excedeu mesmo as expetativas da maior parte dos analistas. Mas não nos enganemos: se Draghi reforçou o programa de compra de dívida lançado há um ano, é porque ele foi insuficiente. E foi mesmo: É o próprio Banco Central Europeu a admiti-lo quando nota que o crescimento na Zona Euro desde o início do ano é "mais fraco do que o esperado".
Draghi não tinha, de resto, outro remédio senão curvar-se perante a evidências: a inflação em Fevereiro foi negativa (-0,2%), e assim deverá continuar nos próximos meses. Os empréstimos a empresas cresceram apenas 0,6% em Janeiro, um pálido efeito do Quantitative Easing, nome desnecessariamente complicado - como sempre acontece na economia - do programa lançado há um ano.
A Europa fica agora num quadro de ansiedade: se o pacote inicial não resultou, o que garante que a extensão do programa vai ter melhor sorte? E não esqueçamos que o envelope lançado em 2015 foi na altura uma ideia destemida, que quebrou o tabu da compra de dívida pública pelo BCE.
A Zona Euro arrisca-se a, daqui a um ano, registar taxas de inflação, investimento e crescimento maiores do que as atuais, mas ainda anémicas. E nessa altura, Frankfurt, teremos um problema. É que, tirando teorias aparentemente radicais mas já em discussão, como a da compra direta de dívida aos Estados pelo BCE (no quadro atual isso é feito indiretamente através da banca) ou a do "dinheiro do helicóptero", o BCE pouco ou nada poderá fazer, e o seu presidente terá de conformar-se: o "tudo o que for preciso" que prometeu fazer pelo Euro pode afinal ser um "nada resulta".
Nesse cenário, a bazuca de Draghi pode ter sido afinal só uma bisnaga, e a ação individual de alguns países com margem orçamental para estimular o investimento pode ser a única saída. E essa porta pode ser tão pequenina que dificilmente lá caberemos todos.