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O caso Galamba veio com estrondo ocupar o nosso espaço mediático. Aquilo que começou num enredo quase noveleiro no Ministério das Infraestruturas, veio a transformar-se numa crise política muito relevante para o Governo de António Costa.
António Costa na declaração que fez ao país, afirmando que não aceitava a demissão do Ministro João Galamba, assumia que isso ia contra a quase unanimidade dos comentadores políticos e o sentimento geral do país.
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Na prática, António Costa assumia que sabia que ia em contramão na autoestrada mas que esse ia ser o seu caminho. Assumia que não ia cumprir o código, não o da estrada, mas o da ética, da moral e dos bons costumes.
António Costa assumiu que não ia respeitar a opinião dos portugueses, nem a opinião do Presidente da República.
E se é verdade que falta perceber algumas das coisas que aconteceram no Ministério das Infraestruturas por estes dias: Porque foi demitido o Adjunto Frederico Pinheiro? Porquê tanto zelo com aquele computador? Qual a justificação para a intervenção do SIS? Por exemplo. Há, porém, uma certeza que temos, o Ministro João Galamba mentiu aos portugueses.
Sabemo-lo, porque o próprio o admitiu. Sabemo-lo, porque João Galamba assumiu que foi ele quem sugeriu à CEO da TAP que reunisse com o Grupo Parlamentar do Partido Socialista para preparar as perguntas da sua audição na Comissão de Economia. Apesar de ter andado semanas a sugerir que só tinha acedido a um pedido da CEO da TAP.
Este é um facto que António Costa ocultou na sua intervenção. Este é aparentemente um governo que não só convive mal com a verdade, como parece conviver bem com a mentira.
Todas as semanas há uma nova cortina de fumo. Uma nova narrativa. Uma nova jogada mediática para nos distrair. Mas nunca um assumir de responsabilidades.
E quando a mentira é apanhada, começamos no passa culpas. No governante que chuta as suas responsabilidades para baixo ou para os lados. Um ministro que culpa um adjunto. Um ministro que culpa um secretário de Estado. Um ministro que implica outro ministro. Um rodar da culpa, uma infantil coreografia aceitável na irresponsabilidade de um adolescente, mas totalmente intolerável naqueles que aceitaram ser governantes da República.
A demissão de João Galamba não foi aceite pelo primeiro-ministro, mas será ouvido em Comissão de Inquérito e sabemos que mais uma vez as suas incongruências serão postas a nu. Só mesmo António Costa, com o seu gosto por ministros zombie, pode achar que após essa degradação de autoridade política, o Ministro estará em condições de conduzir dossiers tão importantes, como a privatização da TAP, o novo aeroporto, ou a CP.
Só mesmo António Costa para achar que um fogo se apaga com gasolina e que os portugueses preferem o confronto à estabilidade e à esperança. Está errado.
E é por isso que, com toda a serenidade e espírito democrático, o PSD aguarda. Não pedindo eleições, mas estando sempre preparado para governar. Sempre preparado para priorizar as reformas às narrativas. Para priorizar o futuro e não as cortinas de fumo.
