Daniel Oliveira critica a ausência de denúncias de abusos sexuais de menores na Igreja portuguesa. "Portugal é o país do silêncio", declara o comentador.
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No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, "A Opinião", Daniel Oliveira abordou o facto de, mesmo tendo a Igreja Católica realizado uma cimeira internacional sem precedentes sobre a pedofilia perpetrada por clérigos, continuarem a não ser conhecidos casos em Portugal.
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O comentador classificou a cimeira sobre os abusos sexuais no seio da Igreja, na última semana, como uma "catarse institucional".
Daniel Oliveira afirma que "não é pelo abuso sexual de menores que a Igreja tem de pedir desculpas". "Esse foi um crime de cada padre", constatou.
Aquilo por que a Igreja tem de pedir desculpa é o "encobrimento" que deu aos casos denunciados durante décadas. "Esse foi um ato coletivo e premeditado da Igreja, da sua base até ao topo", reparou.
O Vaticano deu ordem para que os suspeitos sejam entregues à Justiça civil e para que as vítimas sejam apoiadas, mas Daniel Oliveira considera que a Igreja pode fazer mais.
O comentador defende que se acabe com o celibato obrigatório dos sacerdotes - conferindo-lhes "o direito a serem pessoas completas" - e a abertura da Igreja às mulheres "com os mesmíssimos direitos e deveres".
Apesar de tudo, Daniel Oliveira elogiou o Papa Francisco, que, mesmo "correndo enormes riscos", é "o primeiro a enfrentar estes fantasmas de frente e a obrigar a Igreja a olhar-se o espelho".
Na opinião do jornalista, a "coragem" de Francisco contrasta com a "paralisia" da Igreja portuguesa.
"Ao que parece, enquanto os escândalos se multiplicam pelo mundo fora, em Portugal há, para além de quatro casos levados à Justiça, uma vítima. Uma única vítima. Não se sabe de quem e suponho que nunca se saberá", criticou Daniel oliveira, apontando o único caso que foi ouvido pelo cardeal D. Manuel Clemente e que foi, logo se seguida, encerrado.
"Quanto aos quatro casos já conhecidos: um [dos abusadores] está preso, outro fugiu, e os outros dois tiveram a pena suspensa e continuam a ser sacerdotes da Igreja", notou o comentador.
Daniel Oliveira ironiza que em Portugal - "um dos recordistas de violência doméstica, coutada do macho ibérico, terra do juiz Neto de Moura" - "não há #MeToo, ninguém é abusado por padres, não há racismo e o colonialismo foi o menos mau dos colonialismos".
"Só em Portugal é que nada disso existe. (...) Por cá não há dessas modernices. Aqui, como em mais lugar nenhum no mundo, os padres são mesmo castos", concluiu. "Este país é um paraíso."
Texto: Rita Carvalho Pereira