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As divergências entre o primeiro-ministro, António Costa, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, após o caso Galamba são o tema de reflexão de Daniel Oliveira no espaço de opinião que tem, todas as terças-feiras, na TSF. Para o cronista, Costa "desdramatizou o divórcio" com Marcelo dizendo que os dois concordaram que houve "uma situação deplorável", mas discordaram quanto ao culpado.
"Presidência e primeiro-ministro não discordam do culpado porque não é isso que está em causa, como não foi isso que esteve em causa nos incêndios de Pedrógão ou na morte do imigrante ucraniano no aeroporto. Num ou noutro caso, as culpas são resolvidas na justiça. As responsabilidades políticas foram resolvidas com os ministros. Num dos casos, tardiamente", defende Daniel Oliveira.
Para o jornalista, ao contrário de António Costa, Marcelo não tocou em nenhum assunto que caiba à justiça resolver.
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"Nisso seguiu a máxima, convenientemente interrompida pelo primeiro-ministro, que a parece reservar para José Sócrates e os seus ministros, mas não para adjuntos e raia miúda. À justiça o que é da justiça, à política o que é da política. Marcelo falou de responsabilidades políticas. Essas, só podem caber a políticos", sublinha o cronista.
E questiona: "Se os ministros nem responsáveis são pelo que acontece no seu gabinete, nem mesmo pelo que decidem divulgar do que lá terá acontecido, são responsáveis pelo quê?". Na opinião da Daniel oliveira, a responsabilidade do primeiro-ministro é a de manter um ministro depois disto, mas não é só essa. É a de ter usado este caso para "sustentar a guerra institucional" com o Presidente.
"Nada aqui se salva. O Presidente não soube dar valor à sua palavra e não se limitou a pagar o preço disso. Fez com que a Presidência, enquanto órgão de soberania, pagasse. E com isto pode ter afetado de forma duradoura o equilíbrio constitucional de poderes. O primeiro-ministro não percebeu que, mesmo com a demissão depois de uma ameaça de Marcelo fosse lida como cedência a poderes que o Presidente não tem, a permanência do ministro era insustentável. É que isso fragiliza o seu Governo mesmo depois de uma aparente vitória num braço de ferro, além de fragilizar a dignidade das instituições", alerta o jornalista.
Para Daniel Oliveira, "só se pode dar razão ao Presidente da República", o único que se concentrou "no que se interessava aqui", a responsabilidade política.
"Marcelo deu todos os argumentos a Costa. Costa pegou neles e, para reforçar a sua razão, usou-os no pior dos casos. O resultado é um empate em que, além de perderem os dois, perdemos todos nós. Governo e Presidência ficaram mais fracos. Num momento em que a democracia não respira muita saúde, era coisa que dispensávamos", explica.
Texto: Cátia Carmo