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Mais de meio século depois do início do debate sobre a localização do novo aeroporto, a comissão técnica independente criada pelo Governo lançou um site onde cada cidadão pode propor uma nova localização. No AeroParticipa, "a imaginação e o território nacional são o limite", diz Daniel Oliveira. "Pode até ser que, com mais umas décadas de espera, e sem a TAP pública para garantir o hub em Portugal, uma qualquer cidade espanhola cumpra a função".
"Afinal de contas, para que precisa um país periférico da Europa dependente do turismo, e sem ligação à rede de alta velocidade, de um aeroporto na capital que não esteja a rebentar pelas costuras?", ironiza.
No seu espaço de opinião semanal na antena da TSF, Daniel Oliveira desconstrói a origem do problema.
"António Costa, especialista em empurrar os problemas com a barriga até ter de fazer um pacote que dê nome ao desespero de responder a uma emergência quando já é tarde, disse que precisava de negociar a localização do aeroporto com Luís Montenegro, especialista em não ter posição sobre coisa alguma. Sentaram-se os dois e arranjaram esta solução, acrescentando aos 50 anos de debate e estudo com dezenas de soluções e polémicas técnicas, mais um ano da mesma coisa."
"Isto que se está a fazer é nada", condena Daniel Oliveira, "uma anedota que é alimentada pela vaidade de académicos, jogos políticos do PS e do PSD e interesses de quem gosta de uma mudança de última hora. Este já não devia ser o tempo de fazer estudos. Até o tempo de decidir já passou há muito tempo."
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Por outro lado, "todos desfizeram Pedro Nuno Santos quando se chegou à frente e decidiu avançar com a solução provisória do Montijo para as low cost, aliviando rapidamente a pressão na Portela e dando tempo para um estudo de impacto ambiental para Alcochete, obrigatório, que se encaminhava para ser a solução definitiva".
Porque "falhou na forma", Pedro Nuno Santos foi alvo de "uma humilhação pública imposta e calculada pelo primeiro-ministro, por razões estritamente internas ao PS". "Falhou na forma, não no conteúdo, e muito menos na exasperação de quem quer fazer qualquer coisa e governa num país que premeia quem não se mete em alhadas, ou seja, quem não faça nada", considera Daniel Oliveira.
"Da reforma da habitação à tentativa de relançar um programa ferroviário, construir um aeroporto mais do que urgente ou salvar a nossa principal companhia aérea, quem mexe um dedo neste Governo acaba demitido ou à beira disso. Quem se faz de morto lá continua, desde que não esteja num carro que atropele alguém."
Eduardo Cabrita é a exceção de uma regra que marca a postura política do Governo socialista, mas também reforçada por "uma opinião pública e publicada que se concentra sempre mais no escândalo do que nos resultados", lamenta o comentador.
"Quem fica quieto, podendo não ter resultados, também sabe que não terá escândalos. Nos debates públicos, a voz é quase sempre dada aos interesses instalados, que naturalmente resistem a qualquer mudança que os belisque. E aos interesses não declarados para quem a localização de um aeroporto ou de uma qualquer infraestrutura serve, ou não serve, dependendo dos investimentos especulativos que tenha feito."
Para Daniel Oliveira, "o que está a acontecer com o aeroporto é uma reprise do TGV": após anos de debate e estudos, o Portugal perdeu "a oportunidade de fazer um investimento absolutamente estruturante para o país antes da crise financeira" atingir o país.
"Hoje estamos no fim da Europa, desligados da sua rede de alta velocidade e, por isso, ainda mais dependente da construção de um aeroporto que responda às necessidades. E mesmo esse não o conseguimos fazer, porque só um político suicida se arrisca a fazer alguma coisa e a ser esmagado pela oposição e abandonado pelo primeiro-ministro", atira. "O é melhor ficarem todos quietos."
Texto: Carolina Rico