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As relações entre Portugal e Espanha são historicamente e popularmente sempre marcadas por uma rivalidade que remonta à criação do nosso país. Apesar de ser o país com quem mais relações comerciais temos e até com quem mais laços culturais partilhamos, a frase "de Espanha nem bom vento nem bom casamento" faz parte do imaginário português sendo quase um dogma identitário nacional.
A ascendência espanhola da minha mulher fez-me dirimir este traço nacional e ter um natural interesse pelos acontecimentos do país de "nuestros hermanos".
De facto, as similaridades entre os povos permitem muitas vezes que se trace o paralelo entre o que acontece na vizinha Espanha e o que poderá vir a acontecer em Portugal e é por isso tão interessante acompanhar o que acontece atualmente na política espanhola.
Tal como em Portugal, Espanha tem sido governada por um governo socialista que, tal como o nosso, não teve pejo em coligar-se com a extrema-esquerda quando achou esse casamento partidariamente vantajoso. Pedro Sánches, sejamos justos, levou ainda mais longe a geringonça tendo até com o apoio do Bildu, partido herdeiro do Batasuna, o braço político da ETA.
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O pragmatismo eleitoral dos socialistas ibéricos é também similar, quase siamês, na diabolização que fazem dos partidos mais à direita, VOX e Chega, e consequentemente com o risco das ligações destes a governos liderados pelos partidos tradicionais de centro-direita, PP em Espanha e PSD em Portugal.
Este era, para o PSOE, os socialistas espanhóis, o grande trunfo para as eleições que se realizam no próximo domingo. Mas no único debate televisivo entre os dois principais candidatos, Alberto Feijóo, o candidato do PP, o partido de centro-direita, desmascarou completamente o socialista Pedro Sánchez, ao apresentar-lhe um acordo muito claro: quem perdesse as eleições viabilizaria o governo do outro. O socialista tentou a todo o custo desviar o assunto, sem nunca dar uma resposta, pelo que as sondagens do dia seguinte lhe atribuíram uma significativa queda nas intenções de voto. A narrativa do papão da extrema-direita tinha sido desfeita.
É esta a narrativa que os socialistas têm utilizado nos últimos anos, em Espanha como cá. Utilizam o medo, mas não se dispõem a garantir que as soluções governativas sejam imunes aos extremos. O PSOE esqueceu o exemplo do histórico socialista e Presidente do Governo Espanhol, Felipe Gonzalez, que há muito já tinha defendido bases de entendimento similares às propostas por Feijóo.
Também o PSD já fez proposta similar a António Costa, e tal como Sánchez também o nosso primeiro-ministro não conseguiu ter resposta.
Prevê-se que Sánchez saía derrotado no domingo, é tempo de António Costa olhar para o lado e perguntar-se se quer manter esta narrativa falaciosa ou passar a agir como alguém que verdadeiramente protege a democracia e a liberdade.
