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Ter mais votos e acabar a noite com uma derrota eleitoral é coisa que acontece com relativa facilidade, basta que exista a perceção geral de que há um ciclo político a acabar e outro a começar.
Estamos aí e as cenas de um ministro a apontar a bazuca retórica a outro ministro, acusando-o de não ser capaz de fazer as coisas mais simples, como autorizar a compra de umas rodas, sendo grave, até parece uma brincadeira do recreio da escola, quando comparada com a desautorização pública do Presidente ao ministro da Defesa, perante a trapalhada da substituição do chefe da Armada. Junte-se a inabilidade na gestão política da fuga de Rendeiro, com o governo a lavar as mãos do problema, sugerindo que os conselhos superiores da justiça averiguem o que se passou e descartando a necessidade de mudar a lei para evitar vergonhas iguais. Julgam que a oposição não coloca estaca em terreno firme quando acusa o PS de nada querer mudar na administração da justiça, mas enganam-se.
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António Costa procurará adiar o mais possível a remodelação porque ela será um pau de dois bicos. Benéfica por acrescentar benefício da dúvida num governo desgastado e prejudicial porque confirmará um fim de ciclo com diminuta capacidade de recrutamento fora do partido. Com tantos militantes socialistas a substituir ministros e secretários de Estado sem cartão partidário, ouviremos dizer que é um governo para o combate eleitoral, mas será apenas o que é possível.
O que o resultado destas autárquicas vem lembrar é que a partir do momento em que os partidos da oposição mobilizam melhor o seu eleitorado que os partidos da maioria é só uma questão de tempo para a maioria mudar de campo. Mas isso não acontece como um passe de mágica, de um dia para o outro. As mudanças de ciclo fazem-se em progressão e não saltam etapas. O que se espera é que prevaleça sempre o bom senso, não deixando que as instituições caiam de novo num pântano.