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Num dia, o novo líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, aparece na estação de comboios do Cacém a propor-se resolver a conflitualidade social na CP, dois dias depois, um comboio superlotado em Benfica fica parado uma hora e logo aparece alguém na reportagem a defender o voto na IL, porque "eles privatizam os comboios e acabam-se as greves".
O povo anda tão fartinho da nova realidade, convencido que as greves regressaram em força porque se acabou a geringonça, que até aceita que lhe resolvam a vida cortando-lhes direitos, como o direito à greve. A IL não propõe, é claro, qualquer limitação ao direito à greve quando defende que comboios privados serviriam melhor os utentes, mas sabe que nós sabemos que há menos greves no privado do que no público. E não, não é porque o privado trata melhor os seus trabalhadores, é porque as forças são desiguais.
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Olhem lá para as condições de trabalho na maioria das grande superfícies e os salários que lá se praticam ou para as grande empresas que prestam serviços de limpeza nos escritórios ou ainda para os trabalhadores da construção civil e pensem se não há aí razões para endurecer a luta. Pois que são exatamente esses trabalhadores os prejudicados pelas greves na CP, na Carris, nos STCP ou na Transtejo.
Rui Rocha propõe uma medida inteiramente justa que passa por devolver aos utentes um trinta avos do valor do passe por cada dia em que há greve, mas logo lhe mistura o excesso de liberalismo que lhe corre nas veias ao sugerir que a simples privatização do serviço acabaria com as greves. Pode ser que até seja verdade. A percepção que a maioria das pessoas tem é que é verdade. A estatística confirmará que é verdade. Mas tudo isso só prova que a capacidade de lutar pelo direito a um posto de trabalho digno e com um salário justo diminuiu muito no sector privado. É também a percepção que a maioria das pessoas tem e a estatística confirma. Nunca, como agora, o trabalho foi tão precário e tão mal pago. O povo está tão farto da realidade que até já acredita de novo nos amanhãs que cantam, mesmo promovidos pela Iniciativa Liberal.