Corpo do artigo
Em Portugal, há cerca de dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza e é entre os cidadãos com mais de 65 anos e menos de 18 que a pobreza mais se faz sentir. No caso dos idosos, se retirássemos as prestações sociais, nove em cada dez viveriam em risco de pobreza.
Ser pobre em Portugal é mesmo ser pobre. Por isso, despejamos em lares sem condições, muitos deles ilegais à vista de todos, alguns dos nossos mais velhos, deixando para uns "privilegiados" o acesso a lares com as dignas condições que deveriam ter todos. Numa fase avançada da pandemia, 40% dos mortos eram idosos residentes nos lares e por lá continuam a morrer de Covid 19. Sobre o empenho que o país coloca no tratamento dos seus mais velhos estamos conversados.
TSF\audio\2021\01\noticias\22\22_janeiro_2021_a_opiniao_de_paulo_baldaia
Poderíamos pensar que o país evolui e que a próxima geração de idosos terá melhor sorte, mas pelo andar da carruagem, nem a próxima, nem as seguintes. Já formamos uma geração de diplomados que exportamos para a Europa, sem grande expectativa que possam voltar, porque o país não evoluiu economicamente para poder ser competitivo de modo a fazê-los regressar. Dizemos de peito cheio que continuamos a ser cosmopolitas e com vontade de conhecer o mundo, mas foi maioritariamente a pobreza que levou os filhos para longe dos pais.
Agora, estamos a atingir o nível superior da irresponsabilidade, ao condenar toda uma geração de estudantes a prosseguir o seu caminho amputados de competências que deviam adquirir neste exato momento do seu desenvolvimento cognitivo, condenando muitos deles a perdas irreversíveis que os vão diminuir num mundo do trabalho cada vez mais competitivo. Não dá para confiar. Em março também nos diziam que o encerramento das escolas era por 15 dias e os mais novos só voltaram à escola em setembro (seis meses depois).
Se exportamos doutores, enfermeiros, arquitectos e engenheiros, vamos no futuro exportar muitos trabalhadores com menos qualificações e competências.
Incapazes de combater a pandemia, com um Estado impotente para fazer cumprir as obrigações que determina, vamos sacrificar uma geração, fechando-lhes a escola, enviando cada um para o seu mundo, num mundo que é tão desigual.