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Esta semana assinala-se um ano de pandemia em Portugal. É tempo de balanços e de prospetivar o futuro. Este ano traduziu-se num grande teste a todos os partidos e instituições. Ao governo, que tem o poder executivo; ao Presidente e ao seu papel duplo de vigilante e de conciliador; aos partidos com assento parlamentar.
Dois grandes momentos marcaram os últimos doze meses em termos políticos: as votações do Estado de Emergência no parlamento e as eleições presidenciais que decorreram em pleno confinamento.
No primeiro ponto, fomos assistindo ao deslaçar do consenso parlamentar na votação dos Estados de Emergência e a uma contestação partidária cada vez maior.
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No segundo ponto, apesar dos pedidos para o adiamento do ato eleitoral, não só as eleições presidenciais foram realizadas como deram uma autêntica lição democrática, de liberdade e consciência cívica.
Na oposição, a pandemia trouxe desafios a todos os partidos, sem exceção. Mas foi no centro-direita que se tornaram mais visíveis.
O Chega e a sua expressão relevante nas presidenciais mexeram com os pilares do CDS-PP, da Iniciativa Liberal e do PSD. O CDS viu a ameaça do seu desaparecimento tornar-se tema de debate na opinião pública; a Iniciativa Liberal roubou votos ao CDS-PP, mas precisou de muita ginástica para ampliar o seu espaço na direita; e o PSD, através da liderança de Rui Rio - que muitas vezes esteve ao lado do governo -, pagou um preço político pelos consensos. E poderá pagá-lo, uma vez mais, ao colocar-se ao lado do governo para alterar a lei que chumbou o aeroporto do Montijo, pelos votos contra de duas câmaras municipais do PCP.
E, por falar em PCP - o partido assinala hoje 100 anos. Mas nem sempre a idade é um posto. O PCP tem perdido popularidade e intenções de voto nas sondagens, ainda que ao longo do ultimo ano de pandemia tenha conseguido segurar o seu papel de oposição de esquerda confiável.
Mais frágil ficou o Bloco de Esquerda, que, sem um papel assinado para um casamento chamado geringonça, perdeu peso político, perdeu o protagonismo pelo qual tanto luto una ultima legislatura.
No caso do Partido Socialista, António Costa ora foi sendo fortalecido, durante a contenção da primeira vaga da pandemia; ora enfraquecido, por consequência do caos que se tornou a terceira vaga, sobretudo depois do período do Natal.
Agora, com um confinamento longo e aprovado até dia 16 de março, o PS recupera a sua força interna e volta a unir-se em torno do líder.
A sucessão no PS é um tema que marcará este e os próximos dois anos. Fernando Medina e Pedro Nuno Santos estão posicionados na pista, mas Costa tem sete vidas e o apoio de Belém, esta semana simbolicamente transformado num bonsai, oferecido por Costa num conselho de ministros especial dedicado à floresta, um tema do qual os políticos e o país só se lembram quando tudo já está a arder.