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As escolas, na sua maioria, espelham a sociedade, com toda a heterogeneidade e assimetrias que as caracterizam, comportando crianças e jovens que têm (quase) tudo e aqueles que se veem privados de muito.
Vários são os facilitadores contextuais para alcançar aprendizagens consistentes e otimizadas, desde logo a existência de um excelente ambiente de estudo em casa, com acesso ao material necessário para o desenvolver eficazmente, e condições económicas que permitam a disponibilização dos cuidados primários básicos imprescindíveis para um desenvolvimento integral sadio nas diversas etapas de crescimento.
E, no entanto, deparamo-nos frequentemente com situações que contrariam as probabilidades. Há alunos, que apesar de lhes ser garantida uma conjetura familiar e escolar favoráveis, se desvinculam do processo educativo, e outros, que não têm a sorte da vida, mas lutam por agarrar todas as oportunidades.
Esta minha crónica, hoje, pretende destacar estes últimos. Alunos retirados às suas famílias, alunos com famílias que negligenciam as suas obrigações ou, em muitos casos, com famílias que estão a passar por situações pessoais e sociais desestruturantes, e, por isso, vivem em condições de adversidade inimagináveis, sem recursos suficientes para uma vida digna, vendo na escola e nas ajudas e apoios que esta lhes proporciona, o meio de aspirarem a uma vida com mais esperança e felicidade.
Podem, eventualmente, não integrar qualquer Quadro de Honra ou de Excelência, mas fazem parte de um coletivo do qual nos devemos orgulhar: a Geração Fantástica!
Estes jovens, tantas vezes esquecidos, merecem o reconhecimento da sociedade, muito preocupada com a hipocrisia do ranking das escolas (erradamente assim denominado), envolvida em competições obsessivas, esquecendo-se dolosamente de uma franja de alunos que deveria ser distinguida pelo esforçado e empenhado trabalho desenvolvido em circunstâncias que muito a deve envergonhar.
Foram estes os alunos que no ensino remoto de emergência, mantiveram-se envolvidos e assumiram a responsabilidade, principalmente, a confiança que lhes foi depositada incondicionalmente pelos seus professores e equipas técnicas escolares, e com uma enorme capacidade de resiliência procuraram superar mais um obstáculo para as suas aprendizagens.
Estes alunos são exemplos, conhecem as dificuldades e, com enorme resiliência, investem num futuro mais promissor. Porque eles o merecem, devemos unir esforços e mobilizar respostas mais humanizadas para que se sintam parte de comunidades que os acolhem, cuidam e os motivam.
E, neste sentido, considero de extrema relevância os projetos que nas escolas possibilitem que jovens inspirem outros jovens, fomentem valores e assumam iniciativas de liderança.
A gerar cada vez mais interesse e adesão, assumindo a resiliência como um dos seus cinco pilares, as Escolas Ubuntu (seguindo a "filosofia de vida humanista, transversal e independente
de qualquer país, cultura, religião ou afiliação política", que significa "Eu sou porque tu és", ou seja, eu só posso ser pessoa através das outras pessoas"), ancoram valores essenciais à vida em sociedade, não abdicando no seu quadro de referência "de uma educação plural, inclusiva e não dogmática."
Também por isso ganha enorme importância o Encontro Nacional das Escolas Ubuntu, que decorrerá na próxima 2.ª feira na Fundação Calouste Gulbenkian, reunindo mais de 1000 participantes das 360 escolas do país que estão a desenvolver as Academias de Líderes Ubuntu.
A Educação só tem a ganhar se integrar nos seus projetos educativos, intenções de educação não-formais, que ajudem a preparar os nossos jovens para as contingências da vida, e os motivam a afirmarem-se agentes ativos do seu sucesso, que está muito para além do académico, e que os posiciona como cidadãos que querem transformar as suas comunidades, de forma responsável, em partilha e colaboração.
*Professor; diretor