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Parece mentira, mas em 2021 assinalamos duas décadas dos ataques terroristas nos EUA a 11 de Setembro.
Por um lado, é algo que já nos parece tão distante, pois entretanto aconteceram tantas coisas no mundo e nas nossas vidas. Entre outros, uma recessão em 2008, a invasão russa da Geórgia e da Ucrânia, o Brexit, o «registo» da Administração Trump e a pandemia que estamos a atravessar. Por outro lado, as imagens, as memórias e as recordações que guardamos dos ataques terroristas fazem o 11 de Setembro um dia que não é de todo possível esquecer.
No seguimento dos ataques terroristas o Afeganistão foi alvo de uma intervenção internacional liderada pelos EUA, uma acção consensual entre os protagonistas da sociedade internacional, ao contrário e de forma cada vez mais marcante em relação à invasão do Iraque em 2003. Vinte anos depois as tropas estrangeiras continuam no Afeganistão.
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Quando pensamos neste território há sempre expressões e palavras que o acompanham. Gostaria de destacar duas: a alcunha deste país como «cemitério de impérios» e a palavra «mosaico». A primeira diz-nos muito sobre a identidade guerreira deste povo e a sua longa história de conseguir rechaçar os invasores estrangeiros. Mesmo que a invasão seja exequível, a governação é um pesadelo.
E vinte anos depois que fotografia podemos fazer do Afeganistão? Segundo o World Factbook, a população do Afeganistão este ano é de 37 milhões e 500 mil pessoas, das quais cerca de 44% trabalham na agricultura e cerca de 54 % vivem abaixo da linha de pobreza. A realidade deste território é difícil e extremamente complexa. E temos de acrescentar a esta complexidade a tal palavra «mosaico», pois há muitos grupos étnicos. No fundo, os desafios que o Afeganistão enfrenta são e serão muito difíceis de ultrapassar.
Joe Biden anunciou a recalendarização da saída das tropas dos EUA sendo a sua ideia muito clara: no limite até 11 de Setembro o processo tem de estar completado. O Presidente Joe Biden tenta assim fechar este ciclo de intervenção norte-americana e irá igualmente tentar fazer a transição de poder efectivo. Esta decisão irá implicar certamente o regresso daqueles que foram derrotados e afastados do poder: os Taliban. Na perspectiva da sociedade civil do Afeganistão o regresso dos Taliban é a pior notícia possível. E, em particular, para as mulheres afegãs.