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Vai em Portugal uma grande confusão sobre o papel do Banco Central Europeu na recuperação económica de cada país e da União como um todo. O papel que, nessa matéria, cabe ao BCE é, inequivocamente, nenhum. O banco de Frankfurt não tem entre as suas funções a promoção do crescimento económico, mas está obrigado a garantir que as famílias não perdem o poder de compra, promovendo a estabilização dos preços, ou seja, combatendo a inflação. E como é que isso se faz? Aumentando as taxas de juro de referência, encarecendo o dinheiro. É a inflação, esse imposto escondido, que está a infernizar a vida das famílias mais vulneráveis.
A independência dos bancos centrais é absolutamente necessária exatamente para evitar que essas instituições cedam ao populismo de políticos que, pensando apenas na sua popularidade, defendem o contrário do que sabem ser razoável. A inflação significa que cada euro ganho por um trabalhador vale menos a cada ano que passa, significa que um aumento de ordenado de 5% com uma inflação de 6 é igual a um corte salarial. E a solução não é aumentar todos os ordenados acima da inflação porque isso cria uma espiral inflacionista.
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O BCE tem as costas largas e fará agora a vontade aos políticos, parando com os aumentos sucessivos da taxa de juro, anunciando que elas se vão manter altas durante muito tempo. As famílias, sobretudo as famílias que pediram crédito ao banco para comprar casa, devem saber que a altíssima prestação que estão a pagar pela habitação se vai manter assim nos próximos anos. Aquilo que o governo prepara como solução é apenas o adiamento do pagamento de uma parte dos juros. A prestação vai estabilizar muito acima do que pagavam há dois anos e um pouco abaixo do que estão a pagar agora.
Má sorte dos cidadãos que estão entregues ao populismo de políticos que defendem o que sabem não ser defensável. Teria sido bom que tivessem pressionado o Banco Central Europeu quando ele deveria ter combatido a inflação e não o fez. A Democracia tem calendários eleitorais e tem políticos que querem ganhar eleições. Tudo normal, mas cada um deve responsabilizar-se pelas opções que toma, os eleitores pelos eleitos que escolhem e os eleitos pelas promessas que fazem. Foi para evitar viver na mentira que, em democracia, se decidiu que os bancos centrais teriam de ser independentes do poder político. Não se culpe o BCE e, menos ainda, não se culpe a Democracia.