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As comemorações do 10 de junho ficaram inevitavelmente marcadas pelas manifestações dos professores, por cartazes de gosto mais que duvidoso e claro, pela reação inusitada do primeiro-ministro António Costa.
Mais uma vez, o espaço político e mediático ficou circunscrito a faits divers e bizarrias.
A situação da escola pública é um tema que há muito me preocupa e trazê-lo para o centro da discussão política, pura e simplesmente é urgente.
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A escola pública é um vector fundamental do Estado Social, garante maior da igualdade de oportunidades e da mobilidade Social.
Hoje, diz a OCDE que, em Portugal são precisas 5 gerações para se sair da pobreza e alcançar o rendimento médio. Ao mesmo tempo, este é o país em que, ano após ano, se agravam as posições nos rankings das escolas públicas, face às privadas.
Mas o Sr. Primeiro ministro, ao invés de enfrentar de frente os professores, dialogar, entender o outro lado, e acima de tudo dizer ao seu Ministro da educação uma coisa muito simples: os professores, a par das famílias são alicerces basilares de qualquer sistema escolar. Mas não, optou por afrontar, por justificar e pior vitimizar-se simulando uma falsa indignação.
O direito à indignação e a liberdade de expressão são valores maiores na construção das democracias. As palavras de ordem, muitas vezes exageradas ou injustas, as imagens, muitas vezes de mau gosto, são hipérboles e só isso. São figuras de estilo que servem o propósito de chamar a atenção para uma causa, uma luta ou uma reivindicação. É assim que em democracia estes gestos, muitas vezes ofensivos, têm de ser encarados, com naturalidade e com empatia pela situação do outro.
António Costa, não o percebeu e reagiu duramente contra quem empunhava um cartaz que o retratava e também ele hiperbolizou a situação. Quando olho para trás e me lembro de Pedro Passos Coelho que passou por muito pior mas sempre com a elegância, a segurança e o sentido de Estado de quem coloca o país em primeiro lugar.
António Costa mostra que está farto, cansado e sem paciência para o país. Vamos ver até quando os portugueses terão paciência para este PM.
Sendo eu um agradecido filho da escola pública, digo que não podemos ficar pelos faits divers ou por cartazes, vamos ter de fazer tudo para que a escola pública volte a ter as condições para cumprir a sua missão e ser verdadeiramente sinónimo de sucesso.
