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A evolução da crise pandémica retirou vigor à já previsível reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, ofuscando, de certa forma, esta que foi uma vitória categórica. A ampla maioria obtida, com votos oriundos dos diversos quadrantes, dá-lhe, a par da natural legitimidade do cargo, a enorme responsabilidade com que irá desempenhar as respetivas funções durante mais 5 anos.
No discurso de 5.ª feira, em que se dirigiu ao país, pautado pela clareza, coerência e relevância da mensagem (características que mereciam ser observadas nos discursos dos políticos), percebeu-se que não se deixará condicionar na sua ação, aliás, como nos habituou, e é de enaltecer.
Mas isso implica, a meu ver, devotar a máxima atenção às áreas fulcrais do desenvolvimento do país. Assim, para o 2.º mandato, impera, permitindo-me sentir essa urgência, eleger a educação como prioridade, setor muito penalizado pela atual situação que o mundo está a viver, mas também, pelo minguado investimento (recursos humanos, físicos e materiais) de que tem sido recebedor.
A desmotivação do corpo docente tem vindo a acentuar-se em virtude das condições de trabalho adversas com que frequentemente se depara. Admite-se a entidade patronal não dotar os seus funcionários de material digital para o exercício das suas funções? E estas serem cumpridas com recurso a material próprio, como acontece no Ensino a Distância? É concebível terem um horário irreal de trabalho de 35 horas, dado ser sempre ultrapassado pelas inúmeras tarefas que lhes é devido realizar?). As contrariedades acentuam-se com a injustiça e crueldade de uma avaliação do desempenho docente que, por estes dias, foi concluída no tocante ao ciclo referente ao ano letivo anterior, tendo sido dado a conhecer as classificações finais aos profissionais, na maioria dos casos, com sabor a fel, não honrando o trabalho de entrega e dedicação desenvolvido.
Reafirmo a tirania e a hipocrisia que vigoram no sistema educativo nacional que, entre outras ações, dispensa os professores contratados em 31 de agosto de todos os anos, para os recuperar, passados alguns dias, muitas vezes acenando-lhes com horários completos e anuais. Como se entende, num país onde a escassez de professores é uma realidade, poderem prevalecer tais procedimentos?
Este problema, negligenciado ano após ano vai tornar-se numa pandemia na educação e que perdurará com efeitos desastrosos. É de lamentar que existindo "vacina" para este mal, não haja desejo por parte do governo para a aplicar.
Algumas escolas continuam a carecer de obras de requalificação, para que não mais se visionem fotografias de alunos numa sala de aula "embrulhados" em camadas de roupa, dando início à moda da mantinha escolar.
E como se não bastasse, os orçamentos das escolas são marcadamente irrealistas, devendo ser reforçados para que os líderes dos estabelecimentos de ensino possam fazer uma gestão criteriosa que vá além do pagamento das despesas essenciais.
Apesar de os profissionais desta área terem sempre feito muito e muito bem, esperamos contar com o nosso Presidente da República para exercer um magistério de influências, de forma a que venham a ter os meios para inquestionavelmente fazer mais e melhor. Assim nos queira(m) apoiar!
*Filinto Lima é professor e diretor