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Participei na primeira edição deste festival, creio ainda em 1999. Ainda mantinha contacto com o Zé Bragança, fomos lá os dois com a canalha toda atrás! Percebi todo o potencial da coisa e um despertar dos portugueses para um lúdico que era também um "back to basics". Ou seja, as feiras temáticas abriam novos olhares sobre as feiras, que por muito populares que sejam, representam a pobreza, onde a base da pirâmide social se orienta, local de esquemas e de vias paralelas. A Feira Temática permitiu à "burguesia de Caneças" e a certos viscondes irem à feira, sem irem exactamente a uma cena popular. Iam/vão antes a uma versão gourmet do original. Foi também por este fim de século que as autarquias perceberam todo o potencial deste nicho de mercado, sempre com votos garantido, afinal ninguém se nega ao chocolate! Foi também por essa descoberta que muita burguesia voltou a colocar o avental e a ir para trás da banca vender, o que lhes dá hoje a liberdade para nos irritarem com as fotos das férias, várias, que gozaram com os lucros que fazem com o chocolate, os enchidos e a alfarroba.
O Festival Islâmico de Mértola 2023, anunciou o seu regresso para 18 a 21 de Maio, tratando-se de um evento de realização obrigatória todos os anos. Porquê? Para relativizar e para a "bota bater com a perdigota", entre discurso e acção. O Estado, o Governo, não podem apregoar integração e boas maneiras e não materializar isso com celebrações de integração e boas maneiras. Depois, porque as pessoas só lá vão para dizerem que foram, para comprarem um camelo de peluche e para os comes e bebes, obrigando assim a ir-se no sentido do Alentejo profundo, como dizia o outro, o Alentejo raiano, longe dos grandes cruzamentos humanos, das grandes economias. Estes festivais temáticos também ajudam à descentralização, já que obrigam a deslocações para o interior, para se ir apreciar produto do interior. Até parece que foi pensado!
O Festival Islâmico de Mértola, na linha do modelo vigente no circuito dos festivais temáticos, deverá apostar este ano ainda mais na música que em anos anteriores. Porquê? Porque a música é a linguagem universal que harmoniza os espíritos e porque a interculturalidade que ficar é a experiência, é a presença e acções de gente estranha, no sentido em que nunca cá estiveram e trouxeram algo de novo, que nos ficou numa gaveta e que a memória abrirá com gosto um dia!
A Acontecer / A Acompanhar
- 13 de Abril, lançamento do livro "Vivências e Reflexões Geopolíticas - Para onde vamos?", de Victor Ângelo, às 16h, na Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional, Campo de Santa Clara, 62, Lisboa;
- Todos os domingos, na Telefonia da Amadora, entre as 21h e as 22h, Programa "Um certo Oriente", apresentado pelo Arabista António José, um espaço onde se misturam ritmos, sons e palavras, através das suas mais variadas expressões, pelos roteiros do Médio Oriente e Ásia.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.