Corpo do artigo
Narges Mohammadi, 51 anos, casada, mãe de dois filhos, impedida de falar com eles e com o marido desde 2020. Jornalista e activista iraniana a cumprir pena na prisão de Evin, no Irão.
Ontem, o Comité Nobel anunciou-a vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2023.
É considerada prisioneira de consciência pela Amnistia Internacional que, ao longo dos anos, tem documentado a perseguição de que esta mulher tem sido alvo.
TSF\audio\2023\10\noticias\07\07_outubro_2023_a_opiniao_pedro_a_neto
Inúmeras vezes detida, foi julgada em sessões de 5 minutos, farsas de justiça que nem tempo deixam a alegações ou qualquer defesa.
Presa, foi vítima de tortura, desde o encarceramento em regime de solitária, sem circulação de ar fresco, a tortura do sono, com focos de luz intensa projetados nela 24 horas por dia. Nas suas condenações, as chicotadas fizeram parte das penas que cumpriu e que está neste momento a cumprir.
O nobel da paz que lhe é atribuído vem agora projetar um novo foco de luz, 24 sobre 24 horas, àquilo que as autoridades iranianas fazem aos seus cidadãos, especialmente às mulheres a quem o regime reprime fortemente.
Depois de Mahsa Amini ter perdido a vida para a discriminação e repressão às mulheres no Irão, mais uma jovem de 16 anos, Armita Garavand, luta hoje pela vida estando em coma, depois de ter sido alegadamente agredida pelos guardas da moralidade, entidade que o regime prometeu abolir. Armita deixou de usar hijab na rua, em protesto, como tantas mulheres no Irão fazem desde que Amini foi assassinada. Foi por isto que foi agredida.
Ao saber do nobel da Paz, Narges Mohammadi cantou na prisão, juntamente com outras mulheres ali presas. Foram voz de alegria, foram letra de coragem, de esperança que nós aqui fora, muitas vezes já não temos perante tantas injustiças no mundo.
"Uma manhã, acordei
E encontrei um invasor
se eu morrer como membro da Resistência
deves enterrar-me no alto das montanhas
Sob a sombra de uma bela flor.
Todas as pessoas que passarem dirão: Que bela flor!
E essa será a flor da Resistência
Daquela que viveu pela liberdade."
Este poema terá sido ontem cantado pela novíssima nobel da paz e por outras mulheres de consciência. Este poema terá ecoado nas paredes da prisão de Evin.
Do Irão para o mundo: saibamos nós recuperar essa esperança na vida e jamais deixar de lutar pela Liberdade - aqui e em todo o mundo.