A greve dos motoristas de matérias perigosas é motivo de reflexão para Daniel Oliveira, que aponta os perigos da "fragmentação de sindicatos" para ditar o "fim da solidariedade entre trabalhadores". Mas "o verdadeiro combate da próxima década" é curar uma dependência coletiva que torna a sociedade "gasolinodependente".
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Sobre a greve dos motoristas de matérias perigosas da semana passada, "podemos falar do perigo da fragmentação dos sindicatos, que levará a uma espécie de mercado selvagem do sindicalismo", nota Daniel Oliveira. Este é um dos pontos mais preocupantes que a paralisação desvelou: "Os sindicatos que representam grupos que, pelas suas funções, conseguem paralisar o país, conseguirão muito mais para os seus trabalhadores do que todos os outros".
Torna-se, então, evidente para o jornalista que "será mais eficaz para um do que para os outros, mas representará o fim da solidariedade entre trabalhadores". No entanto, não é a primeira vez que Portugal assiste à "ética individualista da lei do mais forte a impor-se ao movimento sindical", frisa, no espaço de comentário semanal da TSF, "A Opinião".
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"Isto não é novo. Vimos o mesmo com os pilotos da TAP ou os maquinistas da CP, que criaram os seus próprios sindicatos, ignoraram os restantes colegas das outras empresas, e, assim, conseguiram concentrar só para si mais rendimentos e direitos", analisa Daniel Oliveira.
Para o jornalista, a "natureza inorgânica destas novas estruturas", criadas à luz da "fragmentação" entre trabalhadores, "permite que um sindicato de camionistas tenha sido criado e dirigido por um advogado que nunca foi camionista na vida". "A 'coisa' é tão estranha que o sindicato tem sede no escritório deste advogado, com um passado muitíssimo nebuloso e várias acusações de burla", argumenta Daniel Oliveira sobre Pedro Pardal Henriques.
Seriamente preocupante para Daniel Oliveira é "que o chico esperto fura-vidas consiga com tanta facilidade ter na sua mão a chave do setor mais importante da economia nacional a ponto de paralisar o país durante três dias". Mas o maior alerta foi dado ao nível do alarmismo generalizado em torno da escassez de combustíveis fósseis. "Quando se olha para este tipo de episódios, o ponto de vista mais assustador é o da nossa dependência, a nossa brutal dependência", salienta o jornalista.
E quanto a isto, o jornalista não tem dúvidas: "Somos gasolinodependentes, e, ao fim de três dias, já estamos a ressacar. Numa semana, podemos ficar completamente paralisados se um líquido, que não é a água, essencial, nos faltar. E o mais assustador é que aquele líquido, para além de ser um bem limitado e cada vez mais escasso, faz mal ao planeta em que nós temos de viver".
Daniel Oliveira remata com um desafio sobre aquele que considera ser "o verdadeiro combate da próxima década". "Não podemos permitir que um pequeno grupo, ou um burlão, seja dono deste bem essencial, mas o mais importante não é isso. O mais importante é não continuarmos a permitir que este bem nos seja tão essencial", conclui.
Texto: Catarina Maldonado Vasconcelos