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A vida nas escolas alterou-se e impôs novos comportamentos e rotinas com o aparecimento da pandemia - regras e procedimentos adotados e observados pelas comunidades educativas, contribuem para (des)caracterizar o ambiente normal (de antes), impondo um normal (atual) que restringe e espartilha e que se deseja que assuma rapidamente o tempo pretérito.
Impaciência e ansiedade tomaram conta de alunos, em resultado dos largos meses em confinamento, e que ocorreram em dois momentos distintos, agravados, para muitos, pelos problemas sociais de que o desemprego de familiares próximos ou baixa de rendimentos são meros exemplos. Também professores e funcionários se sentem exaustos.
Claramente, nos próximos anos, existem duas áreas onde não faltará trabalho: educação e saúde.
O Plano de Recuperação das Aprendizagens, dado a conhecer na generalidade esta semana pelo primeiro-ministro e ministro da Educação, revela a preocupação do Executivo com o futuro dos nossos jovens, tendo em conta as barreiras advindas do ensino remoto de emergência. Recursos (humanos) e autonomia devem ser palavras-chave do documento em causa, consubstanciadas em ações determinantes, com a flexibilidade e discricionariedade na sua aplicação que a diversidade dos contextos educacionais alavanca, entendendo-se este plano como um conjunto lato de recomendações ou sugestões de trabalho.
Urge eleger a saúde mental e emocional enquanto área de intervenção prioritária, como forma de não descurar a essencialidade de uma resposta especializada que as nossas crianças e jovens carecem, decorrente dos constrangimentos, das pressões e perdas originadas pelo Covid-19, com consequências que se arrastarão no tempo, mas que podem ser atenuadas de forma estruturada e sistémica.
Assim sendo, é imprescindível poder contar com todos os técnicos especializados (psicólogos, educadores sociais, mediadores, assistentes sociais...) colocados nas escolas no início do presente ano letivo, sendo, em muitas situações, necessário reforçar o seu número, dado fazerem um trabalho de retaguarda insubstituível, despistando, acompanhando e encaminhado os casos que são identificados.
Enquanto isso, nas escolas, os diretores e equipas diretivas fazem um trabalho notável em toda a sua abrangência, tendo ainda de gerir (as) emoções (quantas vezes, exacerbadas), com a dedicação que cada circunstância aconselha. Já os professores trabalham arduamente, manifestando profissionalismo brioso, tendo como foco as aprendizagens dos alunos, dedicando igualmente tempo para os escutar, aconselhar e confortar.
Se estes dois últimos anos estão a ser dificultados pelo momento difícil que o mundo atravessa, os próximos, ainda que num enquadramento diferente, pedem igualmente esforço suplementar a uma classe com défice de reconhecimento profissional. Os docentes contrapõem com trabalho de excelência, realizado diariamente nas escolas em prol do progresso e sucesso dos seus alunos, e que muito nos deve honrar.
Pensar o futuro, leva-nos a incrementar a qualidade das aprendizagens, em detrimento da quantidade; a defender o crescimento saudável, o bem-estar, a felicidade, em vez de rotinas que levam à exaustão e são tormento para todos os envolvidos, em especial para os alunos e suas famílias. Há um mundo de saberes para além das fronteiras dos tempos, práticas e espaços tradicionais de aprendizagem. Os discentes merecem!