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Cinco meses depois...? Qual foi, qual tem sido o impacto desta Guerra e, mais importante, qual será o seu impacto a nível internacional e regional?
Há, desde logo, uma mudança na nossa linguagem. Voltámos a discutir o significado de conceitos como neutralidade, alinhamento, esferas de influência ou estados-tampão.
E voltámos, também, a debater o essencial do nosso quotidiano como são, por exemplo, a energia e os cereais.
Sobre estes últimos deixámos mesmo de assumir o abastecimento alimentar como algo de adquirido. A maior parte dos europeus não sabia ou já não se lembrava que a expressão «celeiro da Europa» tem mesmo a sua razão de ser. Entre trigo, milho, sementes de girassol ou fertilizantes podemos estar a falar de metade ou de um terço.
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Na semana passada falei da renovação institucional da NATO e da UE enquanto comunidades políticas.
Mas, do ponto de vista individual, também há países que também saíram reforçados a nível externo.
Desde logo, a Turquia e a sua geografia, ou seja, o controlo dos Estreitos entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Negro, que permite a Erdogan um papel relevante a nível externo nesta Guerra. Quer se goste mais ou menos da liderança de Erdogan (eu claramente estou no segundo contingente daqueles que gostam menos) é incontornável a sua importância seja na questão dos Estreitos, seja como membro da NATO.
A invasão russa da Ucrânia também trouxe a nível da UE uma dinâmica interessante: a divergência de escolhas de dois Estados-membro, ou seja, a Polónia e a Hungria, até aqui bastante alinhadas.
Hoje, e com todos os seus problemas internos em matéria de Estado de Direito e de democracia liberal/iliberal (que não desapareceram da noite para o dia) a Polónia tem conseguido representar aquela Europa para a qual a Rússia é uma memória, uma história muito dolorosa. E que tudo fará para que continue a ser uma memória e não a próxima vítima do expansionismo russo.
Nos antípodas desta reação encontramos a Hungria de Orbán e a sua proximidade a ditaduras como a de Moscovo ou a do investimento chinês.
É difícil conseguirmos delinear os contornos da mudança a que estamos a assistir na região europeia e no mundo. Mas, é inequívoca.