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A guerra Israel/Hamas, que é cada vez mais, de novo, uma guerra entre judeus e árabes, é também cada vez mais, outra vez, uma guerra de palavras entre direita e esquerda. A Direita alinha no dever de Israel retaliar e na condenação do terrorismo do Hamas, a Esquerda não gasta muito latim a condenar o Hamas, prefere gastá-lo no direito de defesa e de autodeterminação dos palestinianos. Como se as preferências à direita e à esquerda, tornassem incompatíveis o direito a viver em paz para israelitas e palestinianos.
Abstenho-me de procurar correspondências lá por fora que confirmem em absoluto o que é evidente cá dentro, mas vale a pena lembrar que, nesta guerra fria 2.0, se os Estados Unidos estão de um lado há alinhamentos que se fazem automaticamente do lado contrário. Bom exemplo é a China, que até tinha convidado o primeiro-ministro israelita para ir a Pequim, mas que se apressou a criticar duramente o governo de Netanyau assim que Israel recebeu apoio total de Washington ao iniciar a retaliação. A visita, obviamente, foi cancelada.
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A guerra convoca-nos para uma trincheira. Se isso é natural nas partes diretamente envolvidas, não devemos aceitar que nos empurrem a todos para lá. Mais ainda se somos jornalistas, comentadores, políticos eleitos para representar o povo. A vingança que pedem israelitas e palestinianos é humana mas não é um bom sentimento. A vingança, para acabar antes que todos tenham morrido às mãos dela, precisa de ter como contraponto o perdão.
Não o perdão que esquece a justiça que é devida às vítimas. As vítimas do massacre olhos nos olhos feito pelo Hamas e as vítimas da mão invisível que fecha a torneira da água e dos combustíveis aos palestinianos que vivem em Gaza. E não, não chega deixar passar 20 camiões carregados de boa vontade, continuando a bombardear e continuando a contabilizar como colateral a morte de inocentes.
O que se percebe igualmente mal é a crença generalizada de que há uma autoridade palestiniana gerindo Gaza em quem se pode confiar quando se trata de fazer a contabilidade dos mortos ou quando se procura apurar a responsabilidade de cada matança. Em Gaza quem manda é o Hamas, inclusive para oprimir o seu próprio povo.
Sobre as mortes no hospital, mesmo que não houvesse muitas evidências de que é grande a probabilidade de ter sido resultado de um lançamento falhado de um rocket, sendo caso de escolher entre a palavra do Hamas contra a palavra do governo de Israel, mesmo sendo Netanyau o primeiro-ministro, até prova em contrário, devíamos começar por desconfiar do Hamas. Mesmo em guerra, onde a mentira é generalizada, é preciso ter em conta que estamos perante uma ditadura versus uma democracia e que isso implica que de um lado não exista nenhum escrutínio e do outro lado sim. Como se tem visto.
Acontece que, mesmo apesar do Hamas, é em Gaza, sobretudo em Gaza mas não só, que é preciso evitar que a morte seja apenas uma estatística. Tenhamos sempre presente que há mais Humanidade no perdão que na vingança. É preciso que quem tem o Poder não deixe que a vingança inviabilize o perdão.