Para iniciar esta série de crónicas semanais, decidi realçar uma evolução positiva do Serviço Nacional de Saúde. O Ministério da Saúde anunciou há dias a possibilidade um internamento hospitalar poder ser continuado em casa, desde que preenchidas certas condições, em vez de manter a pessoa internada. Chamou a esta ideia Hospitalização Domiciliária.
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A Hospitalização Domiciliária é uma forma de juntar os cuidados do internamento hospitalar com um maior conforto para os doentes. O estar internado num hospital obriga a seguir regras e procedimentos, horas para os realizar, e a atenção dos médicos, enfermeiros e auxiliares no hospital é dividida por muitos casos ao mesmo tempo. Não há margem para os pequenos detalhes pessoais que amenizam esse período de doença e que são diferentes de pessoa para pessoa.
Ser tratado em casa permite que cada doente tenha uma atenção não só à medida das suas necessidades clínicas como das suas preferências, dos seus gostos, da sua forma de viver. Terá a sua comida, as suas visitas às horas que entender, a sua vida habitual mais do que estando internado.
O desafio para os hospitais estará acima de tudo na sua capacidade de organização. Os profissionais de saúde terão que estar mais atentos ao que os doentes querem e dizem, até ao que não dizem mas sentem. Terão que explicar aos doentes o que fazer e como pedirem apoio. Terão que ter capacidade de resposta a esses pedidos de apoio.
É uma ideia que pode vir a ser uma "revolução tranquila" na forma como os hospitais olham para a sua relação com os doentes.
Principal dúvida: Vai sempre funcionar bem? Esperemos que sim, mas é natural que haja imprevistos, que terão de ser resolvidos. Haverá um processo de aprendizagem mútuo.
Foi bom ver que a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Enfermeiros se mostraram preocupadas com o processo de fazer acontecer, com os recursos necessários, mas não contestaram a ideia em si.
Todos terão que aprender a funcionar em conjunto - doentes, famílias, médicos, enfermeiros, e gestores hospitalares. Será essa a chave para abrir esta nova porta. E no final, até é provável que todos eles fiquem mais satisfeitos, e até o Ministério das Finanças, por se poder vir a gastar menos euros para melhor tratamento.
Este é um primeiro passo na ambição de ter um Serviço Nacional de Saúde mais moderno e mais humano no modo de tratar os doentes. É uma inovação menos espetacular do que apresentar novas tecnologias, novas máquinas ou robôs, mas tem maior potencial de transformação a prazo. Quando resultar, servirá de exemplo para outras iniciativas que promovam o bem-estar dos doentes.