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Os salários em Portugal são baixos face aos restantes países da Zona Euro, mas Christine Lagarde veio, em Sintra, pedir contenção nos salários e nas margens de lucros das empresas. Palavras que, ainda que tecnicamente bem fundamentadas, incendiaram os trabalhadores e os patrões nacionais. Nenhuma das partes está disposta a prescindir dos seus rendimentos ou lucros, até porque a fatura dos juros e do supermercado é cada vez maior. A única despesa que encolheu, mas pouco, foi a da energia, se compararmos com o pico de preços atingido no ano passado. O contínuo aumento das taxas de juro foi anunciado pela líder do Banco Central Europeu. Esta semana, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, disse à RTP que só lá para 2024 poderá haver uma descida dos juros.
Entretanto, a inflação vai fazendo o seu caminho descendente. Esta sexta-feira soube-se que a inflação caiu 0,6 pontos percentuais, para 3,4% em junho, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) português.
Curiosamente, os nossos vizinhos estão numa rota de descida mais acelerada. A inflação em Espanha caiu para 1,9% em Junho, apesar de ficar aquém da previsão de 1,7% dos analistas. Os preços no consumidor registaram o aumento mais lento desde Março de 2021, segundo o Instituto Nacional de Estatística espanhol. A mesma entidade explica que se deve "principalmente, a que este mês a subida dos preços dos combustíveis, eletricidade, alimentos e bebidas não alcoólicas foi inferior a junho do ano passado".
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Os economistas apontam o facto de Espanha ter aprovado vários pacotes de medidas para responder à espiral inflacionista superiores a 3% do Produto Interno Bruto (45 000 milhões de euros), traduzidos em ajudas diretas às famílias e às empresas e ainda benefícios fiscais (redução do IVA da eletricidade e do gás para 5% ou desconto de 20 cêntimos por litro na compra de combustíveis - está a surtir efeitos).
Espanha decidiu ainda manter sem IVA alimentos básicos até ao final deste ano, bem como descontos de 50% nos transportes públicos, descontos no gasóleo agrícola e para transportadores profissionais, limites máximos para o custo das botijas de gás e apoios nas faturas da eletricidade. O novo pacote de auxílios, aprovado esta semana pelo Conselho de Ministros, é o sétimo desde que se iniciou a guerra e, no total, ascendem a 47 mil milhões de euros.
Com as ganas próprias de Espanha, a ministra da Economia e primeira vice-presidente do governo espanhol, Nadia Calviño, justificou o prolongamento das medidas - contrariando até as recomendações da Comissão Europeia -, pela "incerteza reforçada" relacionada com o conflito naUcrânia. As ganas valeram ainda àquela nação ter fechado o ano de 2022 com a taxa de inflação mais baixa da UE (5,7%). Nadia Calviño destacou que, mesmo assim e apesar da ousadia, as medidas são compatíveis com "a rota" de redução do défice público e "provaram" a sua eficácia com a inflação espanhola a ser hoje das mais baixas da Europa. Neste caso, a boa trajetória não se prende à política salarial e nem obriga os espanhóis (nem eles deixariam) a ganhar menos ordenado todos os meses.