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Hoje vamos olhar para um país com uma história extraordinária e fascinante e que tem cerca de 86 milhões de habitantes, segundo o World Fact Book. Um país que tem estado nas notícias e sobretudo nos últimos tempos devido ao seu programa nuclear: o Irão. Mas a grande razão que me leva a trazer o Irão não é o seu programa nuclear que é evidentemente um tema internacional muito importante e que vamos acompanhar nos próximos tempos. É o facto de o Irão ter sido eleito para uma comissão que está englobada num chapéu-de-chuva institucional muito abrangente que dá pelo nome de Conselho Económico e Social da Organização das Nações Unidas. A comissão em destaque é a que olha, analisa, promove e defende com o objetivo de tornar mais evidentes e mais plenos os direitos humanos das mulheres.
Esta eleição do Irão (ou mais concretamente da República Islâmica do Irão desde 1979), é mais um exemplo de um regime que partilha a natureza política ditatorial com outros membros da Comissão tais como a China, a Guiné Equatorial, a Arábia Saudita e a Rússia. Aliás, também está nesta Comissão um país que tem vindo a preconizar uma luta muito intensa e que continua apesar das temperaturas geladas: a Bielorrússia. Mais ainda, a oposição ao regime bielorrusso é feita através de um movimento no qual justamente as mulheres se têm destacado.
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Neste conjunto de ditaduras o que é que podemos realçar pois de facto o Irão não está sozinho? Há nestas instituições e organizações internacionais uma presença cada vez mais forte, assertiva e eu diria mesmo coordenada em algumas matérias que são consideradas muito importantes para estes países ditatoriais. Nesta lógica basta pensarmos na prioridade que foi escolhida por esta Comissão para este ano que foi justamente a «participação plena das mulheres na vida pública». Ora, esta decisão e esta vontade choca de forma frontal com o que tem sido a prática da República Islâmica do Irão em matéria de direitos das mulheres, em particular a sua «a vida pública e a vida política».
No fundo, o Irão está a fazer um percurso internacional que outras ditaduras têm feito nestas Comissões e está relacionado com o próprio Conselho de Direitos Humanos, a segunda tentativa depois da Comissão de Direitos Humanos, de ter uma maior presença e uma maior força internacional nesta matéria. Mas, se fizermos o mesmo exercício e olharmos para a sua composição encontramos países como a China, a Rússia, o Uzbequistão e a Venezuela. De facto, em fóruns tão importantes como este é difícil conciliar o que é uma agenda promotora e defensora dos Direitos Humanos com a presença de ditaduras como estas.
E esta é, sem dúvida, a realidade, a fotografia que mais nos deve preocupar e que nos deve fazer pensar sobre o que nós portugueses, nós europeus queremos fazer e defender a nível internacional em matéria de Direitos Humanos e, em particular, os Direitos Humanos das Mulheres.