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"Nesta batalha pela alma da América, a democracia prevaleceu."
Foi com estas palavras que Joe Biden resumiu o significado da sua vitória. Foi a vitória da rotina democrática, ou seja, a confirmação pelo Colégio Eleitoral dos resultados de dia 3 de Novembro, que nos parecem tão longínquos. À «vitória» de Joe Biden temos que acrescentar a aceitação dos resultados e os parabéns dados pelo líder dos Republicanos no Senado, Mitch McConnell. Este é um sinal importante e como costumamos dizer: mais vale tarde do que nunca.
Em todo este processo a instituição que eu mais admiro na democracia norte-americana, o Supremo Tribunal, desempenhou com seriedade e solenidade o seu papel crucial de defesa do Estado de Direito (na verdade, os vários tribunais). Nas palavras de Joe Biden: «O [Supremo] Tribunal enviou um sinal claro ao Presidente Trump de que não faria parte de um ataque sem precedentes à nossa democracia.»
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Ainda assim, a política norte-americana vai continuar em ebulição. Em primeiro lugar, temos a 5 de Janeiro as eleições para os dois lugares no Senado do estado da Geórgia. A corrida animou e muito entre os candidatos e imagino que a intensidade não vá amainar até ao dia das eleições. Em segundo lugar, temos uma Administração Trump que se recusa a aceitar a realidade e que pode ainda causar muitos danos, nomeadamente, em questões de política externa. Muito pode acontecer nos próximos dias até 20 de Janeiro.
A cereja no topo do bolo desta semana foi, sem dúvida, a decisão de Vladimir Putin de finalmente congratular Joe Biden pela vitória. A ironia é demasiado óbvia, já que bem sabemos a «saúde» da democracia na Federação Russa. O timing de Putin é interessante, pois é conhecida a posição mais assertiva de Joe Biden em relação à agenda externa russa.
Se é verdade que a Administração Trump designou a Rússia, e também a China, como potências «revisionistas» de acordo com a sua Estratégia de Segurança e de Defesa Nacionais, também é certo que a operacionalização deste conceito deixou muito a desejar. Na prática, não tem sido possível encontrar um rumo na relação entre os EUA e a Rússia nesta última Administração.
Vladimir Putin sabe melhor que ninguém que os novos ventos em Washington lhe serão menos favoráveis. A relação entre os EUA e a Rússia será um dos desafios da
Administração Biden e um dos mais interessantes para quem segue a política internacional. O seu desfecho será igualmente relevante para o rumo da União Europeia, bem como da China de Xi Jinping.
*A autora não segue o acordo ortográfico de 1990