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Agora que o calendário do campeonato contempla praticamente duas jornadas por semana, começa a ser difícil individualizar as rondas. Isto é válido para todos, mas no caso do Sporting tem outra dimensão, porque é aquele que está mais perto do título. Benfica e FC Porto já pensam no frente-a-frente daqui a uns dias, só que antes têm de garantir que não comprometem com Tondela e Famalicão.
Depois de recuperar seis pontos de avanço e com apenas cinco jogos para realizar, o Sporting só tem de manter com Nacional (este já) e Rio Ave a firmeza que mostrou em Braga. Como aqui tinha referido, a partida na Pedreira era um daqueles momentos em que só uma equipa muito personalizada conseguiria atingir o objetivo. Acontece que o Sporting foi muito mais do que aquilo que se lhe exigia.
O triunfo foi épico, mas não apenas por ter jogado com dez durante mais de uma hora. A força anímica - uma outra designação para cabeça fria - foi determinante na forma como os leões lidaram com uma situação que teve tanto de adversa como de prematura.
O Sporting sabe que, se derrotar Nacional e Rio Ave, é praticamente impossível não chegar ao título. Além de que, entretanto, também há o Benfica - FC Porto cujo desfecho pode interessar muito aos leões. De qualquer modo, mesmo que a distância de seis pontos se mantenha, sobrariam apenas três partidas para jogar nas quais a equipa de Alvalade só precisaria de quatro pontos.
É precisamente por tudo isto que a grande cartada da "estabilização" passa pelos dois desafios que aí vêm. Sem dúvida que Vila do Conde é uma das tais deslocações de risco, aliada ao facto de, nesta época, o Rio Ave estar numa posição na tabela que não lhe dá descanso.
Mas, também por tudo isto, não pode relativizar o embate com o Nacional. Porque é o primeiro desta "dupla operação", porque os madeirenses estão ainda mais desesperados na luta pela permanência e porque a vitória no Minho não deve passar ideias de facilitismo pelo facto de o Nacional ser o último na classificação.
Na perseguição ao líder continua o FC Porto, agora numa posição mais difícil. A questão é verificar que tipo de reflexos terá com o Famalicão tudo o que aconteceu em Moreira de Cónegos. Mesmo sabendo que foi muito pior o que se registou fora do campo (daí o assunto estar nas mãos do Ministério Público), não se pode ignorar que Sérgio Conceição estará ausente do banco vários jogos por excessos próprios.
Não é a primeira vez - nem será a última, de certeza - que os dragões cerram fileiras nas alturas mais complicadas. Tal como o Sporting revelou a tal cabeça fria num jogo crucial, o FC Porto precisa exatamente do mesmo para ultrapassar o descontrolo emocional (muito) visível no fecho da última partida. Por muita razão que tenha de uma má arbitragem.
A ida à Luz, a meio da próxima semana, é sempre um dos desafios marcantes num campeonato, qualquer que seja a situação das duas equipas. Simplesmente, isto é o "depois" e acabará por perder peso caso as coisas corram mal com o Famalicão. Esta é que deve ser a preocupação prioritária dos dragões.
No meio disto - e já com o título fora dos planos - há o Benfica. Mesmo que não lhes agrade, as águias acabam por desempenhar um papel em dois planos. O primeiro tem a ver com aquilo que ainda podem admitir como possível, entenda-se, a entrada direta na Champions; o segundo, embora involuntário, a intromissão na disputa entre Sporting e FC Porto, atendendo a que ainda vão receber ambos.
Acontece que o único jogo com os rivais em que os encarnados podem lucrar diretamente alguma coisa é justamente com o FC Porto (e só se ganharem, naturalmente). Falta apurar é que Benfica vai estar agora em Tondela, porque estas várias faces que a equipa de Jorge Jesus tem apresentado continuam a deixar mais interrogações do que certezas. Sendo que uma derrapagem em Tondela - equipa num momento positivo - teria sempre consequências para o clássico.
Entretanto, o Braga vê o terceiro lugar cada vez mais como uma miragem. Se pensava aproveitar algo dos confrontos que o Benfica vai ter com FC Porto e Sporting, a derrota na Madeira pode ter-lhe tirado as ilusões de vez.