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Agora já não há mais conversas. O futebol está suspenso, tal como muitas outras modalidades, o que só demonstra que chegou o bom senso ao desporto em Portugal. Itália e Espanha já o tinham feito e, garantidamente, muitos outros se seguirão. E, se ainda tiverem um pingo de lucidez, compete à UEFA e ao COI fazerem o que lhes compete.
O problema com o qual estamos a lidar é muito mais sério do que alguns ainda pensam e tudo o que for possível fazer para travar a propagação da Covid-19 deve ser feito. Bem sei que há sempre uns quantos com uma certa vocação para brincar com o fogo, mas não é impossível colocá-los no seu devido lugar.
Confesso que achei a deliberação inicial de realização de jogos à porta fechada como uma daquelas medidas que não é carne nem é peixe. Quer dizer : as competições continuavam, estava salvaguardado o calendário, e nada mais parecia interessar para além disto.
E critico a opção não apenas por ser deprimente ter jogos de futebol a decorrerem em estádios vazios. Acresce que uns quantos irresponsáveis - iguais aos que aproveitaram para ir até à praia assim que surgiu um solzinho - até pensaram em ir "apoiar" as suas equipas à porta dos estádios, ignorando em absoluto o objetivo central da porta fechada, ou seja, impedir a aglomeração de pessoas. Portanto, já que não há maneira de acreditar no sentido cívico de certas pessoas, o melhor é agir em conformidade.
Feita a parte que se exigia ao futebol português, convém não esquecer que a questão do novo coronavírus é um assunto planetário. Daí que a inevitabilidade do adiamento (ou cancelamento) do Euro2020 e dos Jogos Olímpicos de Tóquio seja hoje algo que a generalidade dos amantes do desporto encaram com naturalidade. E, já agora, com a responsabilidade que a UEFA e o Comité Olímpico Internacional ainda não demonstraram ter.
No caso dos Jogos, chega a ser ridículo que o Comité Organizador já equacione o adiamento por um ou dois anos, enquanto o COI continua a assobiar para o lado, apesar de, um pouco por todo o lado, estarem a ser adiadas para datas a determinar muitas das qualificações para Tóquio.
A UEFA, tudo o indica, só vai mexer-se agora. A imprensa europeia já refere uma reunião para a próxima semana que servirá para confirmar a suspensão da Champions e da Liga Europa, bem como o adiamento do Europeu para o próximo ano. Tarde, muito tarde, acrescente-se.
Não se pense, contudo, que a UEFA age desta forma por estar muito preocupada com o coronavírus. As notícias dos últimas dias que davam conta da intenção de uns quantos "tubarões" (as federações de Itália, Alemanha, França e Espanha) se estarem a preparar para pedir formalmente à UEFA o adiamento do Campeonato da Europa, pesam muito mais numa possível decisão do que as "preocupações" de Ceferin e companhia.
Aliás, até agora, as verdadeiras preocupações da UEFA residiam em aferir até que ponto algumas cidades europeias estavam em condições de receber jogos, colocando desde logo a possibilidade de...mudar de locais. Reparem bem até que ponto a UEFA inverte a prioridade das coisas.
De resto, já tinhamos tido os exemplos da Liga dos Campeões e da Liga Europa, com uns jogos à porta fechada e outros não, com jogos adiados e outros não, numa salganhada que só desvaloriza a essência das competições. Tudo isto quando estava na cara que deviam parar para uma avaliação séria da situação.
Posto isto, deixemos agora o futebol na gaveta e passemos ao que realmente interessa. Há um combate para travar e que precisamos ganhar. Aqui, como tanta vezes se diz no futebol, é que verdadeiramente ganhamos todos ou perdemos todos.