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Em sintonia com a comemoração dos 60 anos de independência da Argélia (05 de Julho), decorrem desde 25 de Junho até 6 de Julho os Jogos do Mediterrâneo 2022, em Orão, no oeste do "hexágono", como a Argélia também é conhecida. Portugal teve presentes 159 atletas, em 19 modalidades. Até ao momento, já conquistamos 6 medalhas de ouro, 7 de prata e 5 de bronze. "Nada mau" ou um "podia ser pior", tão à portuguesa, não nos permite colectivamente valorizar a nossa presença neste tipo de eventos internacionais. Ou seja, trata-se de "soft power", o que nos resta e que deve ser valorizado, cultivado e transmitido em directo em nome do serviço público e da Nação. Ou seja, bis, os portugueses para se identificarem com algo, para "se inscreverem" como diz José Gil, têm "que levar com a injecção". O que realmente quero dizer, é que a população está disponível, na apatia da falta de futebol, a davides carreiras no Rock In Rio! Só alinha nisto quem não tem alternativa. Na verdade, os que lá foram entusiasticamente assistir a um espectáculo de música ligeira, como se dizia no tempo em que o pai dele começou a ter nome, não o trocariam por um jogo de andebol. Mas esse é mais um dos sintomas da falta de projecto nacional. Isso e a organização do festival colocar música ligeira num evento que tem no Rock o seu estandarte. A comunicação social portuguesa não ignorou, mas também não investiu nesta "olimpiadazinha à Romana", só nossa, porque mediterrânica. Porquê? Porque Portugal não se vê geograficamente mediterrânico, logo não acha que seja estrategicamente mediterrânico. E é e para passar a achar que é, precisa da massificação, precisa da visibilidade e da glorificação das seis medalhas de ouro conquistadas, porque assim se glorifica também o ciclismo, a natação, o atletismo. Em seis competições e em três modalidades somos os melhores do Cabo da Roca até Jerusalém e não sabemos e não valorizamos. Glória a Rafael Reis, Glória a Diogo Ribeiro, Glória a João Coelho, Glória a Cátia Azevedo, Glória a Leandro Ramos, Glória a Camila Ribeiro, Glória a Portugal!
Glória aos restantes medalhados, Glória aos 159 bravos/as que nos representaram e que também deverão ser encarados como os/as 159 melhores portugueses, em 10 milhões, nas respectivas áreas desportivas. Precisamos de nos encher de nós próprios primeiro, para depois alavancarmos um "soft power" nacional, que começa em cada um de nós. Isto não impede o sarcasmo e a anedota no permanente pessimismo da autocritica, mas o que não podemos é ignorarmo-nos, patente nesta "não inscrição" colectiva nos Jogos do Mediterrâneo 2022. Distorcidamente, o "onde não há imagem, não há notícia" serve
como ilustração final. "Soft power, expressão usada na Teoria das Relações Internacionais para descrever a habilidade de um corpo político - um Estado, por exemplo - para influenciar indirectamente o comportamento ou interesses de outros corpos políticos por meios culturais ou ideológicos" e basta!
Argélia - 60 anos
O mote destas celebrações reflecte a "Paz Fria" com Marrocos, já que este 60º aniversário celebra "o ano da afirmação da independência e de potencia regional", na clareza da demonstração de que se poderá defender. Trata-se de uma réplica dos bons velhos tempos da sã bipolaridade ideológica. Ambas as partes querem ao máximo não "escorregar nas armadilhas" do outro, já que sabem os custos da guerra subir da "terra-de-ninguém-ocidental" para a cidade. Logo, ambas as partes se convenceram de que o outro os vai atacar, reforçam a defesa e exibem-na. É também disso que se tratam estas comemorações, que aproveitaram a abertura dos Jogos a 25 de Junho, para enquadrarem nas celebrações paradas militares em todas as cidades da República, onde mostram os mais recentes "brinquedos da paz"! Os Jogos do Mediterrâneo 2022, têm cerimónia de encerramento marcada para o dia seguinte à Festa Nacional de 5 de Julho. A Argélia tem aqui momento em que jogou o "soft power" no estádio enquanto vai exibindo o "hard power" pelas ruas, dando sentido de comunidade a quem tem o inimigo bem definido e precisa de acreditar, para tudo fazer sentido. Só no conforto, não se compreende isto!
Guiné-Bissau assume a Presidência da CEDEAO
A RGB, no acrónimo dos "corredores das Necessidades", assume pela primeira vez a Presidência rotativa da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), desde ontem, 3 de Julho. Decisão tomada na 61ª Cimeira realizada em Acra também este domingo. A mesma teve como tema principal as sanções aos golpistas Mali e Burkina Faso. Face a alguns progressos no Mali, cuja Junta Militar fixou referendo constitucional para Março de 2023, legislativas entre Outubro e Novembro do mesmo ano e presidenciais para Fevereiro de 2024, viu o fim do sufoco do bloqueio comercial e financeiro que vigorava desde Janeiro, fazendo do Mali uma "ilha-em-terra", isolado na hinterlândia oeste africana. Com o Burkina, foi estabelecido um acordo para se fixar em 2 anos o regresso dos civis ao poder, a contar do passado primeiro de Julho, valendo equivalente alívio comercial, financeiro e bancário.
A Acontecer / A Acompanhar
A Embaixada de Portugal em Rabat e o Camões Instituto da Cooperação e da Língua, são parceiros da organização do Festival Sete Sóis Sete Luas, a decorrer até 5 de Julho nas cidades marroquinas de Alcácer-Quibir, El Jadida (Mazagão) e Essaouira;
A 7 de Julho, lançamento do livro "Uniformes do Exército Português 1848-1861", de Pedro Soares Branco, às 17h30, no Palácio dos Marqueses do Lavradio, no Campo de Santa Clara, Lisboa;
Raúl M. Braga Pires é autor do site Maghreb-Machrek, é Politólogo/Arabista e escreve de acordo com a antiga ortografia
