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Uma Vida ativa é o desejo máximo de todos os jovens, de todas as famílias em relação aos seus filhos, aos seus educandos. Se cada transição gera ansiedade, receios e inseguranças, a derradeira, pelo término do percurso escolar, é dramática para muitos, que veem as suas aspirações cair por terras.
A escola assume um peso fundamental na preparação dos seus alunos para uma vida ativa, bem como para uma cidadania consciente, de forma o mais autónoma possível, podendo realizar-se em ambientes mais protegidos, ou não, na comunidade envolvente. O papel da escola é orientar para a resposta existente mais adequada e facilitar o processo, promovendo o efetivo envolvimento de todos.
Para os alunos com incapacidades intelectuais moderadas, que mobilizam a adoção de medidas adicionais e um programa educativo individual, a legislação vigente aponta a necessidade de se dar início aos Planos Individuais de Transição (PIT) a partir dos 15 anos de idade, ou seja, nos 3 anos anteriores ao final da escolaridade obrigatória.
Durante o seu percurso escolar, estes alunos têm um conjunto de apoios muito próximo e particularizado, percebendo-se as competências e potencialidades que cada um é capaz de acrescentar em cada etapa do seu desenvolvimento. Ora, quando em contexto da sua comunidade, importa que continue a existir uma rede de suportes, essencial para que consigam progredir integralmente.
É fundamental que, no âmbito do currículo destes alunos, se promovam áreas de aprendizagem substitutivas, específicas, que os capacitem e melhor os preparem para a vida pós-escolar, garantindo o desenvolvimento de competências de autonomia pessoal e social, para além das académicas e transversais, que lhes permitam as ferramentas eficazes, ainda que numa modalidade adaptada, para poderem fazer transições com êxito para o mundo do trabalho.
Mas estas competências, desenvolvidas em contexto de escola, são ampliadas quando trabalhadas também noutros contextos, estes, sim, adaptados e organizados para a formação pré-profissionalizante. As parcerias com instituições de educação especial
são fulcrais para que se conjuguem dinâmicas e esforços, de modo a que os discentes com incapacidade possam fazer um percurso formativo e académico consonante com as suas perspetivas e necessidades, desenhado para serem produtivos e se sentirem úteis e realizados.
Todavia, a Vida ativa para os alunos com incapacidades graves pode apenas significar a existência de espaços que se afigurem securizantes, onde estejam motivados, incluídos e se sintam felizes. Jovens com multideficiência grave desenvolvem o seu PIT em CACI (centro de atividades e capacitação para a inclusão) de bem-estar, desejando-se que, após o término do percurso escolar, possam transitar para as instituições de educação especial onde desenvolveram atividades significativas.
Infelizmente, isso nem sempre acontece.
Estes lugares são, por vezes, inalcançáveis. Ficam em casa, à mercê da qualidade da bolsa dos seus pais ou cuidadores, que lhes propiciarão na medida certa das suas capacidades financeiras.
É crucial para a manutenção das capacidades físicas e psicológicas que estes jovens integrem um CACI, onde dar-se-á continuidade à intervenção especializada e aos suportes que lhes foram concedidos até então, num novo contexto protegido.
Quanto mais grave é a incapacidade, menor é a probabilidade de obter vaga numa instituição de educação especial. As respostas são de qualidade, mas escassas, sendo urgente que a sociedade civil e as entidades governamentais responsáveis por esta área social invistam no aumento da oferta, porque a que há é deveras insuficiente.
A escola pública realiza um trabalho de qualidade, que acaba, em grande parte dos casos, desperdiçado pela sociedade, que se esquece destes jovens, dos seus pais, cidadãos de direito, que não merecem que coloquem o futuro sonhado em stand by.