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A percentagem de jovens com casa própria reduziu-se de forma significativa nas últimas décadas. A conclusão consta do estudo "Habitação em Portugal nos últimos 40 anos", divulgado esta sexta-feira pelo Banco de Portugal, e mostra que a proporção de proprietários jovens tem vindo a recuar. Atualmente, apenas 42% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos têm casa própria, percentagem que se situava em 61% na geração anterior.
Não espanta, por isso, que Portugal se mantenha no topo dos países europeus com mais adultos que não saem de casa dos pais. Os dados variam ligeiramente consoante as fontes, mas aproxima-se dos 70% a percentagem de jovens até 30 anos que ainda se mantém no ninho. Muito acima da média da União Europeia, que é de 49,4%, com os países nórdicos a liderarem em autonomia.
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Claro que a realidade é sempre multifatorial e nesta equação entram igualmente aspetos culturais, já que o incentivo à emancipação é maior noutras geografias. Mas não pode ser ignorado o peso de condicionamentos financeiros nas escolhas. Os baixos salários explicam, e muito, a dificuldade dos jovens em iniciarem projetos de vida fora da asa dos pais. Apesar de estarmos a falar da geração mais qualificada de sempre, o salário médio de jovens até aos 30 anos é de apenas 843 euros.
Por muito que o Governo aponte programas para fixar recém-licenciados, à exceção das medidas fiscais o que vemos é uma manta de retalhos de promessas desinteressantes ou de impacto nulo nas opções de vida a médio prazo. É urgente discutir políticas públicas para a juventude que ajudem a ultrapassar as dificuldades no início da vida profissional. É verdade que estatisticamente a emigração dos mais jovens até diminuiu na última década, mas continua a situar-se acima das 12 mil saídas permanentes por ano. Demasiado para um país envelhecido e em que a falta de esperança domina as perceções relativamente ao futuro.
