Corpo do artigo
Não falta muito e estaremos a celebrar cinquenta anos de democracia. Faltam apenas três anos. Em 2024, terá passado meio século desde o momento em que um grupo de militares fez um golpe e devolveu a soberania ao povo. Um desses militares, um dos vários a quem devemos o mais profundo agradecimento pela coragem de enfrentar os ditadores, foi Vasco Lourenço. Foi também Vasco Lourenço que, nas celebrações dos 40 anos de Abril, impedido de discursar na Assembleia, se indignou e acusou a maioria PSD/CDS de ser herdeira dos vencidos, ou seja, herdeira da ditadura. O que diria o Vasco Lourenço de 2014 ao Vasco Lourenço de 2021 que impediu dois partidos de entrarem no desfile que vai descer uma avenida a que, homenageando o que que começamos a construir em Abril, chamamos Liberdade?
TSF\audio\2021\04\noticias\23\23_abril_2021_a_opiniao_paulo_baldaia
Talvez a memória de Vasco Lourenço tenha sido sempre seletiva ou se adapte aos interesses de cada momento. Há cinco anos, na sequência da criação da "geringonça", este militar de Abril considerou que essa solução governativa representava o afastamento do poder de setores da direita derrotados no 25 de Novembro. Estou certo de que a inclusão do PCP e do Bloco numa maioria parlamentar de apoio a um governo representou uma marca de maturidade política que reforçou a democracia, mas dizer que o 25 de Novembro foi a derrota do PSD e do CDS ou é piada ou revela alguém que tem uma visão muito redutora da Liberdade, uma visão onde só cabe quem for de esquerda.
Sim, o partido Iniciativa Liberal tem gosto em desvalorizar a importância que a Revolução de Abril tem na história de Portugal. Sim, o partido Iniciativa Liberal tem tiques estalinistas e gosta de apagar partes da história, defendendo que é possível metaforicamente passar do dia 24 de Abril de 1974 diretamente para o dia 25 de Novembro de 1975, esquecendo, por exemplo, a tentativa de golpe de direita a 11 de Março.
Seja como for, a democracia exige de todos nós o máximo de tolerância com quem pensa diferente e aconselha que se guarde a energia para os combates que verdadeiramente importam. Não, Vasco Lourenço, o mundo não se divide entre esquerda e direita, muito antes disso, faz distinção entre Homens livres e autoritários.
No domingo, como no resto dos dias do ano, todos temos o dever de caminhar nessa avenida a que chamamos Liberdade.