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Embora existam registos da participação do nosso país na edição de 1995 do TIMSS no que concerne ao 4.º ano, é a partir de 2011, e com a regularidade quadrienal exigida pelo Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), que Portugal integra este estudo de avaliação internacional, referente não só ao desempenho dos alunos do 4.º e 8.º anos de escolaridade nas áreas de matemática e de ciências, como também aos respetivos contextos de aprendizagem.
Os alunos respondem a um teste, com duração de 90 minutos, que combina questões no âmbito destas duas disciplinas, cujos resultados poderão contribuir para (re)definição de políticas educativas, sendo um indicador que deverá ser apreciado e respeitado.
Os resultados do TIMMS 2019 4.º ano não foram nada lisonjeiros para Portugal por comparação aos obtidos nas provas de 2015, tendo-se verificado uma descida significativa de 541 para 525 pontos. Não tanto o valor (a escala é de 1 a 1000), mas o decréscimo aferido, deverá merecer a superior atenção da tutela, assim como ações assertivas e pertinentes com o intuito de inverter este sentido.
Como vai sendo habitual nestas situações, assistiu-se ao empurrar das responsabilidades do atual governo para o anterior (de outra cor partidária), recusando cada um a assumir as suas. A pergunta é óbvia: caso os resultados fossem iguais ou superiores aos de 2015, quem reclamaria os louros? A resposta parece ser ainda mais evidente!
A Educação dispensa refregas claramente politizadas, vazias de interesse e que nada lhe acrescenta, exigindo entendimentos que perdurem, ainda que com os reajustes necessários e consensuais. Os avanços e os progressos efetivam-se com o contributo de todos, embora percecione o percurso ascensional da Escola Pública muito por mérito da ação dos professores, que, em prol dos seus alunos, se superam e retemperam diariamente o ânimo para lidar com os inúmeros constrangimentos com que se deparam.
Os políticos devem, com imparcialidade, "olhar com olhos de ver" para os nossos docentes e a sua carreira profissional, valorizando-os e dignificando-os, proporcionando-lhes melhores condições de trabalho, apoiando a criação de ambientes mais positivos que previnam o burnout, adotando medidas proativas que atraiam os mais jovens para a docência e combatam a precariedade, redefinindo, também, regras para a aposentação e pré-reforma.
Estou ciente que a lista de reivindicações dos sindicatos é bem mais longa, com muitos mais pretensões do que as que acima sumariamente foram identificadas; afinal, estes defendem (há quem duvide) os interesses dos seus associados. Quero ainda acreditar que assim é.
Contudo, considero que alguns sindicatos optaram por caminhos questionáveis para, nas suas palavras, "quebrar o bloqueio ministerial" e lutar contra as "condições de trabalho, mas também com a forma como está a ser tratada a pandemia de Covid-19" nas escolas. O desacerto quanto às razões que estiveram na origem das greves foi evidente, bem como à duração e aos destinatários destas: uns convocaram greve por um período de uma semana abrangendo todo o pessoal docente e não docente, outros por um dia e só destinada a professores.
Em ambas as situações dispararam tiros nos pés, abusando de uma arma poderosa cuja eficácia perde rapidamente, por uso abusivo, força e intencionalidade, contribuindo para a descredibilização dos combates justos de uma classe há muito desprezada, com responsabilidades de quem a representa e devia efetivamente defender.
A fraca adesão, teve, como aliado de peso, o timing escolhido, revelando-se inoportuno e controverso. O plano de recuperação e consolidação das aprendizagens não pode sofrer mais reveses, sob a pena de se prejudicar o elo mais fraco - os alunos - e os professores reconhecem isso, não conseguindo fundamentar a existência destas greves. O momento pandémico convoca outras prioridades, e formas de protesto sensatas, consentâneas com os inúmeros desafios que se perfilam atualmente.
A Educação necessita de entendimentos dialogados, envolvidos, que reprima atitudes precipitadas e irrefletidas, não comprometendo o trabalho de nível elevado, realizado dia a dia nas escolas públicas portuguesas.