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A paz, o fim de pobreza, a eficácia do combate às alterações climáticas são prioridades mais que urgentes para o mundo.
Dizer estas verdades tão óbvias é por vezes um ato esmagado por uma realidade imposta pelos senhores do mundo, os senhores da guerra, os realistas da teoria de relações internacionais que advogam o pragmatismo. Segundo eles devemos acreditar que todos nos querem fazer mal e por isso temos de nos defender. As nações devem correr ao armamento e devem extrair, capturar e controlar recursos económicos e naturais, que são também energéticos. Disto depende a nossa segurança, o nosso modo de vida, o nosso bem-estar. Mesmo que pisemos os outros.
Este pragmatismo que nos querem fazer crer os senhores do mundo viu-se na cimeira de Davos e tem-se ouvido por aí, sugerindo à Ucrânia que se renda, que aceite negociar a cedência de território e recue.
O interesse dos senhores do mundo é o fim do conflito, mas não a paz.
O fim do conflito que lhes interessa é o que repõe a estabilidade dos seus negócios. Não lhes interessa a construção de uma paz justa e duradoura que é impossível de se obter negociando com uma parte beligerante que ainda não foi clara ou verdadeira nas suas intenções com a guerra.
A paz justa e duradoura repõe o respeito pela carta das Nações Unidas, repõe o respeito pelas convenções de Genebra sobre as regras da guerra. Repõe a ordem do Direito Internacional que foi sendo construído e solidificado desde os tratados de Vestefália no século XVII.
Repõe os Direitos Humanos naquilo que é a centralidade de um projeto de poder e governo de uma Nação para com os seus cidadãos e nas suas relações internacionais.
Tenho para mim que lutar por estas ideias, trabalhar por direitos humanos por vezes é tão quixotesco como lutar contra moinhos de vento.
A personagem de Cervantes, D. Quixote era tudo o que estes senhores do mundo pragmáticos e poderosos não são. O cavaleiro vivia num mundo de ilusão e sonho, mas também de princípios e honra; e é por isso que lutar contra moinhos de vento se tornou símbolo de causas impossíveis para idealistas e sonhadores. Para D. Quixote não eram moinhos, eram gigantes.
E apesar de gigantes, os senhores do mundo esgotam-se na sua pequenez de espírito. Assim será com Putin e outros semelhantes.
Os sonhadores, esses, parecendo que muitas vezes perdem, são os fazem do mundo um sítio melhor. São os que ficam na História que conta, na História que faz o mundo avançar.
Os que ficarão agora, serão aqueles que se defendem e aqueles que defendem princípios.
Aqueles que trabalham para a sustentabilidade do planeta, para uma energia que nos livre da poluição que nos mata silenciosamente. Aqueles que trabalham para um mundo de direitos humanos, para um mundo com menos pobreza e desigualdade, sem ditadores a enriquecerem com o saque do petróleo e do gás.
Neste fim de semana de sol e calor, o meu filho bebé contagiou-nos a todos com a sua alegria ao caminhar na areia. Dá passos ainda desequilibrados, mas de riso largo. Ao chegar ao mar, apontou para ele chamando-lhe "mãe". Parecia que sabia bem o quanto dependemos da mãe Terra e Mar para vivermos.
Ao contemplá-lo assim, feliz da vida, sei bem que a paz é certa.
Os gigantes acabarão por tombar.