A assinatura do acordo histórico para alterar o nome da ex-república jugoslava da Macedónia para República da Macedónia do Norte é tema para o artigo de opinião de Ricardo Alexandre.
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A Macedónia vai chamar-se Macedónia do Norte, ou Norte Macedónia. Acordo histórico. A Macedónia não se chamava Macedónia, mas sim FYROM (Former Yugoslav Republic of Macedonia), nome oficial pelo acrónimo em inglês. Em português seria algo do género ARJDM (antiga república jugoslava da Macedónia), o que não dava jeito nenhum.
A Grécia nunca aceitou o nome "Macedónia" e isso foi bastante para o país com capital em Skopje nunca ter podido aderir à União Europeia e à NATO. Atenas entende que tal nome revela ambições dos vizinhos do norte à região grega com o mesmo nome e um atentado à herança nacional da Grécia. A Macedónia ex-jugoslava remete as raízes do seu território para o antigo reino de Macedon, governado por Alexandre, o Grande, alegando por isso o óbvio da escolha do nome. Daí a enorme quantidade de estátuas erigidas em seu nome em Skopje, daí o aeroporto internacional com o seu nome, para furiosa reação grega.
Este domingo, os primeiros-ministros grego (Alexis Tsipras) e macedónio (Zoran Zaev) assinaram finalmente um acordo, algo que tem vindo a ser trabalhado pelo diplomata norte-americano Matthew Nimetz há mais de duas décadas. Primeiro como enviado especial de Bill Clinton em 1994, mas desde 1999 como enviado especial do Secretário-Geral da ONU.
Mais do que dar nome a um estado, o que está em causa é a própria construção desse estado. E a oposição que gera ou gerou no país vizinho. Recorde-se que um ano após a independência macedónia da federação jugoslava em 1991, um milhão gregos saiu à rua em protesto nas ruas de Salónica, provocando a queda do governo e forçando à designação de um primeiro-ministro, Andreas Papandreou, que aceitou levar por diante medidas como a proibição da FYROM aos portos gregos.
A questão do nome não tem implicação na vida de todos aqueles dois milhões de pessoas que vão certamente continuar a considerar-se macedónios e não macedónios do norte, mas sossega a diplomacia dos dois países e permite à Norte Macedónia avançar, de forma mais consistente, no seu ainda incipiente processo de integração europeia. A UE representa dois terços das exportações do país e 36% das importações.
Sopram novos ventos no relacionamento com o vizinho europeu (a Grécia), mas a Macedónia do Norte tem outros problemas, mais graves e estruturais diria, que não a questão do nome: a tensão político-partidária; o desemprego elevado (ainda que tenha descido de 26,8% em 2015 para uma previsão de 21,6% este ano); o peso da economia informal e da corrupção que minam o desenvolvimento económico; a politização da composição étnica do país, com mais de 25% de minoria albanesa num contexto de maioria eslava; a excessiva dependência das remessas de imigrantes (quase 20% do produto interno bruto). Mas também a falta de desenvolvimento de infraestruturas que podem, de facto, conhecer um "boom" em breve com a ajuda chinesa no quadro do megaprojeto da Nova Rota da Seda e a conclusão do chamado Corredor VII entre a Albânia e a Bulgária e o Corredor X entre a Grécia e a Sérvia. A Macedónia resolve a questão do nome mas, como destino inultrapassável do seu posicionamento geográfico, continua numa encruzilhada social, política e económica.