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Vamos ao rescaldo da visita do Presidente francês e da Presidente da Comissão Europeia à China. O que podemos dizer sobre o impacto desta visita?
Primeiro, Bruxelas.
A fotografia realista das relações entre a UE e a China feita por Úrsula von der Leyen, que vos trouxe na semana passada, e a necessidade de mudar o registo de Bruxelas face a uma China cada vez mais assertiva, não tornou, como calculam, a sua passagem pela China mais fácil ou com destaque.
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Era mais do que evidente que os holofotes mediáticos estariam apontados a Emmanuel Macron. E, em matéria de pompa e circunstância, a China de Xi Jinping não desiludiu.
O que podemos retirar das declarações do Presidente francês? Em primeiro lugar, ficou muito claro, face aos tumultos nas ruas francesas, a sua necessidade de ter um sucesso diplomático.
Nesse sentido, a dimensão empresarial desta visita levou a negócios volumosos por parte de alguns sectores-chave da economia francesa.
Mas, do ponto de vista político e diplomático, podemos dizer que foi um sucesso?
Face à proposta de «de-risk», ou seja, de mitigar os riscos na relação com a China, de Bruxelas as declarações de Emmanuel Macron foram no sentido de enfatizar uma UE com «autonomia estratégica» e como «terceira superpotência». Até aqui ... tudo bem.
No entanto, ao detalhar as suas ideias Macron afirmou: «Os Europeus não conseguem resolver a crise na Ucrânia; como é que podemos dizer sobre Taiwan [à China], "tenham cuidado, se fizerem algo de errado, nós estaremos presentes"? Se a nossa intenção é aumentar as tensões, então este é o caminho a seguir».
Podemos e devemos discutir o envolvimento europeu no outro lado do globo e, em especial, face a um conflito latente como é Taiwan com imensos riscos e consequências.
Mas, sobre estas frases de Macron, entre muitos, quero destacar a utilização da palavra «crise», que é a mesma usada pela China em detrimento de «guerra». Pode parecer um pormenor, mas não é de todo face ao destinatário.
Muitas vezes me perguntam se não é exasperante seguir a política externa chinesa pelo secretismo de ser uma ditadura.
Confesso que, em momentos como este, o que é mesmo exasperante é acompanhar a política externa francesa.