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A crise política que vivemos tem sido reveladora da forma como os diversos protagonistas lidam com a democracia.
Por um lado, temos tido o Presidente da República, habitualmente palavroso, a gerir os seus silêncios e a proteger a sua posição de garante da estabilidade democrática. Por outro, demasiados protagonistas políticos a opinar sobre um processo judicial que, por definição da Justiça, tem de estar em segredo.
Esta tem sido, de resto, a posição de muitos, e destacados, membros do Partido Socialista. Uma posição que não protege o Estado de Direito, a separação de poderes ou o regime democrático em si.
Aquando da queda do governo foi unânime, da esquerda à direita, a posição de que a data das eleições deveria cumprir um prazo que permitisse ao Partido Socialista escolher nova liderança e reorganizar-se. Foi uma postura de um sistema democrático adulto. Em que todas as partes colocaram os interesses do País acima dos interesses eleitorais.
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Porém, o Partido Socialista tem optado consecutivamente por escolher o caminho contrário. É assim, como referi, na posição relativa à Justiça, em que rapidamente se esqueceu o habitual mantra de António Costa: à Justiça o que é da Justiça, à Política o que é da Política.
Mas principalmente na forma como o Partido Socialista está a aproveitar o curto tempo de governo que lhe resta para aprovar medidas eleitoralistas e até aparelhistas.
Vejamos: o Partido Socialista que apresentou mais de 1000 proposta de alteração ao Orçamento do Estado é o mesmo que governou o país nestes últimos 8 anos e que, obviamente, apresentou este mesmo Orçamento de Estado.
Mas também nesta apressada vontade de nomear mais de 300 dirigentes para o SNS. Ao invés de se concentrar na urgente situação da Saúde, a preocupação prende-se com nomear, com indicar e com deixar estes lugares preenchidos. Tudo isto é feito à pressa, de uma forma pouco transparente e com regularidade questionável, visto ser enxertada no Orçamento do Estado.
É desta forma que o Partido Socialista tem gerido o tempo de governo que lhe resta. Sem respeito pelas regras democráticas. Sem respeito pela responsabilidade mostrada pelos outros partidos. Sem sequer tentar controlar os seus ímpetos eleitoralistas.
A crise política em que o País está mergulhado já é demasiado séria. Esperava-se do Partido Socialista mais responsabilidade e, sobretudo, mais dignidade.
