
TSF
"Também Belém entrou neste jogo de sombras em que se lançam ideias e propostas que parecem ser para levar a sério, mas não são."
Não há, verdadeiramente nunca houve, uma negociação do PS à direita e à esquerda. Há uma negociação de António Costa com o PCP e com o Bloco para formar governo. Se esta negociação for bem sucedida, Portugal terá pela primeira vez um governo constitucional liderado pelo PS com apoio ou participação dos partidos à sua esquerda. Se falhar, coisa que não pode ser descartada totalmente, os socialistas estão obrigados (Costa já o disse) a viabilizar um governo PSD/CDS.
As eleições foram há 15 dias e há 14 que o destino do próximo governo está nas mãos do Partido Socialista. O Presidente da República fará o que está obrigado a fazer. Também Belém entrou neste jogo de sombras em que se lançam ideias e propostas que parecem ser para levar a sério, mas não são. Este jogo começou, aliás, em Belém, quando Cavaco Silva, que tinha todos os cenários estudados, chamou Passos Coelho e o mandatou para conseguir o apoio do PS, falando ao país com um discurso que deixava o PCP e o Bloco de fora de uma solução governativa. Agora, o Presidente poderá ter que dar posse a um governo que não desejava e que julgava impossível.
Nestas sombras, onde nos escondem, o tempo que podem, as verdadeiras intenções, Passos Coelho fez de conta que queria negociar com o PS, quando, na verdade, julgou que tinha o PS no bolso. Respondeu António Costa com negociações à direita e à esquerda e acabou surpreendido, como todos nós, pela facilidade com Jerónimo de Sousa escancarou as portas a uma frente de esquerda. Desde aí, Costa não pensou em mais nada, todo o seu esforço está concentrado nesta hipótese. As negociações com a coligação passaram a ser para português ver. Isso levou Passos Coelho a subir a parada, mas de nada lhe valeu. Se António Costa conseguir levar a bom porto as negociações com Jerónimo de Sousa e Catarina Martins haverá um governo de esquerda. Se essas negociações falharem, Passos e Portas continuarão no poder.
Quando se pensava que as negociações à esquerda eram bluff, a direita pouco teve para oferecer ao PS, quando se percebeu que não era, a direita tirou as prendas da gaveta. Agora que se percebeu que bluff eram as negociações à direita, são o PCP e o Bloco que querem prendas maiores. O PS terá exagerado no afastamento que fez do PSD e CDS e isso dificulta as negociações à esquerda.
Maquiavel, que há 500 anos estudou a filosofia política sem utilizar na sua análise conceitos morais e éticos que pudessem condicionar os seus estudos, sentenciou que "o que depende de muitos não costuma ter sucesso". Que destino nos estará reservado? Político que se preze terá lido "O Príncipe" de Nicolau Maquiavel que, ao contrário do que se pensa, não escreveu um manual de maldades e hipocrisias para conquistar o poder e nele permanecer. De Maquiavel vale a pena, nesta altura, recordar o seguinte: "Quem for eleito pelo povo, deve manter-se amigo dele".