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Muitos avisos à navegação foram deixados esta semana por Marcelo Rebelo de Sousa em entrevista à RTP e Público. Desta vez "não estou a por a mão por baixo do governo", disse. Foi duro na avaliação do governo de António Costa bem como na análise que fez à prestação da Conferência Episcopal nos casos de abuso da igreja.
Marcelo foi tudo numa noite: Presidente, comentador e professor. Não divulgou a nota final no exame que fez, mas antevê-se uma redonda negativa com consequente chumbo.
Durante a entrevista, o Presidente mostrou-se desiludido. Em desassossego, não disfarçando um certo esgar zangado. Aliás, logo avisou que não renuncia à arma que tem em mãos: a chamada bomba atómica, ou seja o poder de dissolver o Parlamento, ainda que não seja o seu desejo carregar no botão vermelho.
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Lembrou que esta maioria nasceu "requentada, cansada" e que está preocupado com a execução do PRR. Usou expressões curiosas, de uma dureza nunca vista: "se sentir que realmente há uma coisa patológica excecional, então pondero isso". No fundo, "se acontecerem coisas do outro mundo" admita usar o poder de dissolução.
O caso da TAP não ficou de fora do exame de Marcelo. Não só confirma que há efeitos políticos no caso TAP como acredita que o tema deixou marca no governo de Costa. Também o ministro das Finanças, Fernando Medina, não escapou ao veredicto. Medina "tem de olhar para trás" para "ver se não há nada suscetível de causar problemas", avisou. "Vai haver, com certeza, uma concentração de foco sobre o ministro das Finanças, que é o mais importante do Governo neste momento. Para Marcelo, Medina e os outros ministros têm de olhar para trás e ver, ponto por ponto e ao longo das suas intervenções, tudo o que foi o passado para ver se não há nada suscetível de causar problemas", alertou.
Marcelo lembrou que é Presidente até 9 de setembro de 2025 e já se percebeu pelas suas palavras e pelo tom que Medina vai ficar na mira, pelo menos nos próximos dois anos.
Marcelo mostrou-se ainda desiludido com os casos de abuso na igreja e a posição da Conferência Episcopal. Desiludidos estão também os portugueses com os casos e casinhos na política e com os bispos que são o rosto de uma igreja fragilizada, como não há memória. Uma coisa já é certa: o caminho até ao altar da Jornada Mundial da Juventude vai ser penoso de percorrer, quer para os crentes quer para os sacerdotes.