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No dia 16 de janeiro, Rui Rio publica com destaque na sua própria conta de Twitter a sondagem da Aximage para a TSF, o JN e o DN que dá o resultado de 38% para o PS e 28% para o PSD. E comenta: "Ai Jesus. Que banhada!". Nisto, Rui Rio acertou. Foi mesmo uma banhada. No estudo de opinião publicado quinze dias depois, nos mesmos meios, registava-se um empate técnico. Aí não houve twit. Mas vamos ao que interessa, que foi no que não acertou.
O líder do PSD errou quando se deixou embalar no mantra segundo o qual em eleições legislativas não é a oposição que ganha, mas o governo que perde. E abdicou, ao longo de cinco anos, de construir uma proposta política de mudança para centrar o posicionamento dos sociais-democratas, permitindo que se instalasse a dúvida de uma aproximação ao PS. Tratou também de informar o país que os votos da sua direita eram residuais, não tendo sequer que se preocupar com ascensão desse espaço eleitoral.
Vamos aos números. Os partidos à direita do PSD, em 2019, elegeram sete deputados e obtiveram 355 mil votos. Em 2022, as mesmas forças partidárias conseguiram 20 deputados, tendo obtido 740 mil votos. Ou seja, mais do dobro. Em suma, Rui Rio falhou na mensagem, na estratégia e no que o PSD deve representar para a sociedade portuguesa. Com um resultado abaixo dos 30 por cento em duas eleições, não só não conquistou a confiança do voto flutuante, como não conseguiu ser atrativo à direita.
No outro espectro, os números têm uma leitura simples: António Costa drenou a sua esquerda. Números: em 2015, BE e PCP, que depois decidiram viabilizar um governo do PS, tinham elegido 36 deputados e obtido um milhão de votos. Em 2022, perdem 25 deputados e têm 471 mil votos. O PS por seu lado, cresce de 1.750 mil votos, em 2015, para 2.246 mil em 2022. Foram esses 500 mil votos a darem a maioria absoluta.
Como aqui já se escreveu, a solução parlamentar de 2015 produziu um único vencedor. Pela primeira vez na história, no pico do desgaste do governo, Costa agrega e mobiliza o seu espaço natural, enquanto Rio aliena o seu.
O mandato de confiança dado aos socialistas garante estabilidade, mas as maiorias absolutas podem ser propícias a fenómenos de abuso de poder. O país precisa, agora mais do que nunca, de instituições autónomas e fortes.
É por essa razão que o Presidente da República não é apenas uma pessoa. É um órgão de soberania, que, ao contrário do primeiro-ministro, é eleito diretamente pelos portugueses. Portugal vai precisar em Belém, mais do que um árbitro que equilibre jogos partidários, da sua força escrutinadora. E ao contrário do que se possa sugerir, o poder de Marcelo não saiu beliscado. Saiu reforçado. Não para fazer contrapoder, mas para fazer a fiscalização exigente que garanta o regular funcionamento das instituições.