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Marcelo nada disse sobre o tempo de que precisa a Direita para se endireitar, talvez pensando que o voltariam a acusar de se estar a meter onde não deve. Talvez com um peso na consciência porque se pôs a jeito quando recebeu Rangel. Talvez porque verdadeiramente acredite que o argumento mais forte para marcar as eleições a 30 de Janeiro seja a necessidade de realizar os debates televisivos já em 2022, deixando aos portugueses o direito de viverem o Natal e a passagem do ano como não viveram o ano passado. A ver vamos se é possível.
Marcelo apontou responsabilidades à esquerda pela crise política que vivemos e isso é tão evidente que não pode estranhar a ninguém que o tenha lembrado como justificação para fazer o que nenhum Presidente gosta de fazer, porque acarreta o risco de não deixar nada resolvido, que é dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas.
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Marcelo nada disse sobre o facto de o governo se manter em plenas funções, apenas com as limitações de não poder contar com a Assembleia para actos legislativos da sua exclusiva competência. Convém lembrar que neste século houve três vezes eleições antecipadas e nas três vezes os governos estiveram em gestão com a demissão do primeiro-ministro. Foi assim com António Guterres em 2001, foi assim com Santana Lopes em 2004 e foi assim com José Sócrates em 2011.
Marcelo é agora o super-fiscalizador, é ele quem tem de garantir que o governo não cede à tentação de fazer nomeações em barda ou negócios em catadupa. Talvez tivesse sido bom que, em dia de noticia sobre nove contratos assinados para explorações mineiras, em locais onde as populações lutam para que isso não aconteça, talvez tivesse sido bom que o Presidente desse sinais de que não vai permitir que aconteça o que sempre acontece.
Marcelo não quis ser acusado de tomar partido, optou por ser politicamente correcto. Mas, com a Casa da Democracia em vias de ficar a meio gás e o governo a todo o gás, os portugueses precisam que o Presidente tome o seu partido. Exemplos de governos que abusaram nos últimos dias de vida não faltam e, para primeiro exemplo, a história das explorações mineiras deveria fazer com que ninguém se perdesse no politicamente correcto.