Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa: diz-me quem convidas, dir-te-ei quem és
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Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa vão convidar João Lourenço, presidente de Angola para estar nas comemorações dos 50 anos do 25 de abril.
Foi o convite mais sonoro até agora.
A revolução de abril em 1974 foi fantástica. Depôs um regime criminoso que violentava, intimidava, prendia, torturava e matava quem pensasse diferente. Regime que obrigou milhões de jovens a ir combater em várias guerras contra a sua vontade.
Depois de anos de uma "guerra colonial", os territórios que hoje conhecemos por Angola, conseguiram a sua independência política do estado português. As fronteiras deste país, não respeitaram identidades e geografias locais. Algumas foram mesmo desenhadas artificialmente por europeus colonos a traço direito de régua e esquadro.
Os Tshokwe, por exemplo, ficaram divididos entre vários territórios coloniais do Nordeste de Angola, ao Congo e Zâmbia. Mais exemplos de povos divididos pela colonização poderia referir.
Mesmo assim, é inegável que na sequência do 25 de abril em Portugal, algum sonho de liberdade tenha voado também para a África colonizada.
Infelizmente, ainda hoje o poder em Angola é exercido de forma esmagadora onde se violenta, intimida, prende, tortura e mata quem pense diferente.
Em 2024, nas comemorações dos 50 anos do 25 de abril, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa escolheram convidar João Lourenço, responsável político contemporâneo por estas violações de direitos humanos e opressão em Angola.
Até agora, nem uma palavra destes dois responsáveis em Portugal, muito menos qualquer convite, aos oprimidos, aos prisioneiros de consciência, às crianças e jovens mortos pela brutalidade policial em Angola a mando do regime de João Lourenço.
A elite angolana no poder continua cheia de vícios, de corrupção, de opressão ao povo, de prisão a opositores políticos e a ativistas.
É inegável que estes países fazem parte de uma festa de liberdade que é o 25 de abril. Todos estamos de acordo. Mas quem representa melhor a liberdade? Aqueles que com o seu poder a oprimem? Ou aqueles que lutam por ela todos os dias e pagam essa coragem com a vida?
Quem devia ser convidado para celebrar Abril e a Liberdade, são aqueles que estão hoje presos por lutarem por ela, são as mães dos que morreram por ela.
Mas bem sabemos que as elites não andam na rua e não convidam qualquer um para a mesa farta do Estado e da diplomacia.
E quem diz que a diplomacia deveria ser separada dos direitos humanos: não, não podem ser separáveis. E, muito mais, não pode servir só para dar represálias a uns, enquanto ignora a repressão de outros.
Os políticos não deviam ter dúvidas em optar por estar ao lado dos oprimidos, dos que sofrem, dos que são forçados a conviver com a pobreza, dos lutadores pela liberdade. Mas cada um escolhe os seus convidados. Lá diz o povo com muita sabedoria: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Diz-me quem convidas, dir-te-ei também quem és.