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No título original, "Marocains et Portugais, regards croisés", coordenado pelo Professor Driss Guerraoui (Presidente da Universidade Aberta de Dakhla), foi apresentado na passada quinta-feira 23, na Residência Oficial do Embaixador do Reino de Marrocos em Lisboa, Othmane Bahnini. Trata-se de um "livro-inquérito" que responde a perguntas que parecem reflectir um início de relações diplomáticas recentes. Por exemplo, fica patente neste trabalho coordenado pelo Economista Guerraoui que, mais de 90% dos marroquinos têm uma boa imagem dos portugueses. Cerca de 38% dos marroquinos conhece Portugal através da escola, quase 34% através do passado colonial (45% com imagem positiva e 54% com imagem negativa), 22% graças à Imprensa e 3,25% graças ao Desporto, por via de figuras como Eusébio (cuja morte, na altura), assisti a conversas sobre o craque nos cafés e táxis colectivos, entre anónimos marroquinos. Mais recentemente, Figo e Cristiano Ronaldo têm sido os nossos maiores Embaixadores populares!
O que é que isto significa? Como disse, parece que estivemos distantes no tempo e no espaço e só agora nos estamos finalmente a conhecer! Mas também pode significar que só agora, 50 anos após o 25 de Abril, e 25 após a entronização do Rei Mohamed VI, é que nos queremos finalmente conhecer. De facto, há sinais de ambos os lados de isso estar a querer acontecer. Por exemplo, Portugal nomeou no final do ano passado um novo Embaixador para o Reino, Carlos Pereira Marques e um Delegado do AICEP repetente em Marrocos e que muita saudade tinha deixado aos empresários portugueses entre 2011 e 2019, período de franca colaboração entre este agente comercial e a nossa gente. Por outro lado, Marrocos tem dado a Portugal um olhar alternativo, no sentido em que a criação de alternativas, planos B"s com Portugal, significam menores dependências da vizinha Espanha. Por isso mesmo a ligação marítima entre Portimão e Tânger interessa a ambas as partes, menos à Espanha! Por outro lado, vê-se uma sintonia entre Portugal e Marrocos na questão das energias alternativas, com Sines a construir unidade específica para receber o hidrogénio verde marroquino.
Ou seja, se há vontade para um novo começo, esta será a melhor forma de o construir, através da Academia, melhor veículo para a mitigação de estereótipos de parte a parte. Resta agora aos mestrandos e doutorandos/as das sociologias, antropologias e relações internacionais portugueses/as, colocarem Marrocos e o Magrebe nas suas prioridades de pesquisa, agarrar neste estudo e trabalhá-lo ainda mais profundamente. Por exemplo, é preciso tirar a limpo porque é que neste estudo apresentado na quinta-feira 23, 22,6% dos marroquinos acham que Portugal é um país em vias de desenvolvimento! Ou, porque é que a maioria dos portugueses acha que se chega a Tânger e a areia do deserto está logo ali e cobre o país todo! Desconstruir é preciso e esta publicação pode muito bem dar o mote para outros trabalhos neste âmbito. Não esquecer também que existe uma Licenciatura em Estudos Portugueses na Universidade Mohamed V-Agdal, em Rabat e cujos alunos poderão ser os principais agentes e interlocutores desse sentimento português entre marroquinos!
A Acontecer / A Acompanhar
- 15 de Março, 2ª Edição do Forum Internacional - Exportação e Internacionalização, no Hotel Sheraton do Porto. A iniciativa, organizada pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa em parceria com outras 26 Câmaras de Comércio Bilaterais, é dedicada a empresas interessadas em exportar ou internacionalizar-se, para conhecer e entrar em contacto num único local com 26 mercados de todo o mundo.
O evento compreende:
- Espaço Feira: Stands com expositores: para encontrar em B2B as CCI e vários especialistas da exportação;
- Espaço de Conferências: apresentações dos mercados e workshops sobre exportação.
A participação portuguesa contará com a presença da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Marroquina.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.