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Antes de tomar a decisão que deu a conhecer a meio da semana, Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) soube escutar o sentimento nacional relativo ao decreto sobre a carreira docente. De modo inteligente proferiu afirmações que, de alguma maneira, deram pistas para o veredicto intercalar.
Ao não promulgar o diploma em crise, o Presidente da República reabriu a possibilidade de renegociação do tempo de serviço congelado, traduzido em 6 anos, 6 meses e 23 dias, pretendendo eliminar a disparidade do tratamento, inexplicavelmente diferenciado, entre os professores da Madeira e dos Açores e os do Continente.
A atitude de MRS trouxe esperança aos docentes e revigoramento à luta que travam com o governo, uma espécie de balão de oxigénio para as batalhas que se avizinham, deixando de haver dúvidas que lado da barricada tem, nesta matéria, o apoio do Chefe máximo da nação portuguesa.
Se alguns dizem, agora, que o veredicto era o esperado (certezas nunca antes escutadas), a maior parte das pessoas está intrigada com a rapidez da resposta em relação à solicitação de MRS, dado ter sido enviada em tempo record (menos de 24 horas!!!), presumindo-se existirem as alterações esperadas (?!).
Ou seja, o governo foi célere a atirar ao alvo, colocando a pressão do lado do PR, que demorou algumas semanas a dar resposta, que se veio a traduzir certeira e instrutiva. Não vislumbro outra hipótese que não seja a da disponibilidade, por parte da tutela, na reabertura do processo (que alguns já davam como encerrado) para aprofundamento das negociações, empurrando as rondas com os sindicatos para o próximo ano letivo, fazendo perdurar o problema.
Neste momento imperam as questões inevitáveis: Poderá estar criado um braço de ferro entre governo e PR? É possível, a curto ou médio prazo, consensualizar posições manifestamente divergentes? Terá MRS arte e engenho para ajudar a resolver a contenda? Que estratégia será apresentada pelo governo para não quebrar a posição publicamente assumida? Poderão as justas ambições dos professores ser asseguradas ou "morrer na praia"?
Os docentes podem contar com a magistratura de influência que o PR usará, não desdenhando, contudo, da inteligência política e estratégica de António Costa, perseverando na expectativa de um epílogo que lhes seja favorável.
Se o conflito não terminar durante o próximo mês, creio que teremos um início de ano letivo complicado e tumultuoso, pois os sindicatos já agendaram greves e prometeram ações vigorosas de luta para pressionar o governo.
Ou muito me engano, ou a calmaria típica do mês de agosto na Educação será rendida por ondas agitadas, centradas na relação institucional entre o Primeiro-Ministro e o Presidente da República.