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O meio Orçamento do Estado reflete pouco sobre o que podem ser as ambições do Governo para a Legislatura, sendo certo que é a partir do documento que se aferem os caminhos. Este já foi construído e apresentado como trunfo de segurança e estabilidade por António Costa, tendo como linhas de força as contas certas e fazendo figas para que o cenário macroeconómico não piore. Mas serve sobretudo de cobertura jurídica para as medidas já tomadas de apoio às famílias e às empresas.
A Oposição aponta a austeridade implícita, mas não representa alternativa. A Iniciativa Liberal perdeu adesão à realidade com o discurso de "menos Estado", num contexto em que precisamente o que o Estado não pode é falhar por falta de comparência. O Chega não apresenta ideias que sejam percecionadas como efetivas soluções. A esquerda do PS só tem a rua e os protestos. E a segunda maior força do Parlamento está em compasso de espera.
Um país democrático, contudo, precisa de liderança na Oposição. E se os dois candidatos anunciados à disputa do PSD, Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva, não oferecem resistência de estatura política, está por saber qual a proposta que têm para oferecer. E o ponto de partida é tremendamente exigente.
Após a maioria absoluta de Costa, o ciclo avizinha-se longo, o que para um partido de poder como o PSD é gerador de instabilidade. O novo líder estará obrigado a conviver com um grupo parlamentar mais reduzido, composto à imagem da estratégia que serviu o legado político de Rui Rio. Acresce o risco de ofuscamento pela não presença do novo líder no Parlamento.
O crescimento significativo da representação parlamentar de novas forças políticas que se têm demonstrado mais atraentes para o país à direita do PS tornam a tarefa do próximo líder de uma exigência que talvez nenhum outro tenha encontrado na história do PSD.
Os sociais-democratas sempre navegaram com a segurança de serem a força agregadora do espaço de centro-direita. E foi a partir desta base que o partido construiu as suas vitórias eleitorais, mas sobretudo que subsistiu no governo e resistiu na oposição.
É o tecido sociológico tradicional do PSD que, em primeiro lugar, o próximo presidente terá que recuperar. Depois de Rio uma coisa ficou clara: não se reconquista esse espaço ficando a aguardar o desgaste de um governo que agora depende apenas de si. Mas também é certo que o tamanho do desafio de Jorge Moreira da Silva ou de Luís Montenegro dura para já, apenas e só, até às eleições europeias.