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Daniel Oliveira defende que o país não precisa de abanões, mas sim de um Governo focado em reforçar o Serviço Nacional de Saúde e de "medidas constantes, que entrem na rotina da vida das pessoas". O comentador critica, assim, as declarações do primeiro-ministro António Costa que disse, em entrevista ao jornal Público, sentir ser necessário "haver um abanão na sociedade" para combater a pandemia.
No espaço de opinião que ocupa na TSF à terça-feira, Daniel Oliveira revela ser contra a obrigatoriedade da instalação da aplicação de rastreio StayAway Covid e acredita que a polémica levantada a propósito dessa eventual obrigatoriedade já era esperada por António Costa. "Eu estou convencido de que o primeiro-ministro até sabia que a proposta provavelmente morreria antes de chegar a nascer, basta ver que Ana Catarina Mendes e membros do Governo tomaram posição pública contra", sustenta.
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Para o comentador, esta polémica teve um "efeito negativo", pois, na sua visão, "este avanço e este recuo reduz a confiança das pessoas no Estado, no Governo e na forma como ele lidera o combate à pandemia".
O jornalista considera que a única forma de conter a pandemia é "que as pessoas adiram voluntariamente" às medidas, o que não aconteceria caso a obrigatoriedade da instalação da aplicação de rastreio fosse aprovada.
"Isto é o oposto de polémicas, sobretudo em torno de medidas que são, além de inaceitáveis, impraticáveis. O resultado é que baralham a mensagem, desfocam das medidas que são importantes, criam confusão nas pessoas", sublinha.
Na visão do comentador, as medidas estabelecidas devem ser constantes e entrar "na rotina da vida das pessoas, para que as pessoas saibam que estão a fazer bem, que é aquilo que devem fazer, que permitam que as empresas, os negócios e os serviços públicos se adaptem a essas medidas e as consigam manter até elas se tornarem rotineiras e que não desgaste psicologicamente ainda mais as pessoas com alterações permanentes na sua vida".
O comentador vai mais longe e defende que os portugueses não precisam"desses ziguezagues que vão desde o primeiro-ministro e o Presidente da República a dizerem para toda a gente ir para a praia até dizer que temos de repensar o natal."
"Não precisamos, seguramente, de chicotadas psicológicas. As pessoas não são plasticina, não se adaptam às mudanças dos humores dos líderes", insiste.
O jornalista diz ainda temer "que a dramatização da responsabilidade individual de cada um sirva para reduzir o escrutínio público sobre os deveres do Estado e para passar essas culpas para as pessoas".
Por isso, defende que o Governo deve agora ocupar-se em reforçar o Serviço Nacional de Saúde: "Isso sim era aquilo em que tinha de se concentrar: não em dar abanões, mas em dar firmeza ao solo que precisaremos para combater esta pandemia", remata.