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Para começo de conversa, importa dizer que não conheço nenhum diretor de um órgão de comunicação social, seja jornal, rádio ou televisão, que não tenha direito pela função que exerce ao uso de um carro com plafond para gasolina e portagens. Enquanto exerci funções de direção foi-me atribuído, primeiro, um BMW e, no fim, uma carrinha VW de igual valor. Faço esta declaração de interesses para salientar a estupefação com que assisti a uma discussão populista sobre a renovação da frota automóvel da TAP.
O problema não é, nunca foi, o debate sobre a opção tomada pela companhia aérea, mas a forma simplista como se procurou fazer esse debate. Não interessava o racional económico, importava apenas que a companhia, por estar nacionalizada, à espera de melhores dias, tinha de castigar os seus administradores e diretores, como forma de aliviar o sentimento de injustiça dos contribuintes. Pura demagogia. A TAP voltou atrás, mas nem por isso está salva, nem os contribuintes serão dispensados de pagar o prejuízo.
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A ser verdade o que nos disse a administração, e continua a dizer, trocar a velha frota Peugeot pela nova frota BMW permitiria poupar mais de 600 mil euros por ano. Ora, se assim é, está aqui um bom argumento para despedir quem tomou esta decisão. A velha frota foi renovada por um ano, o que significa que à fatura a ser paga pelos contribuintes acrescem agora mais 600 mil euros.
É claro que, pelo clamor com que a discussão foi feita nas redes sociais e na comunicação social, a reversão de uma medida que nos diziam ter racional económico foi tomada por pressão política. A satisfação com que nos vemos vingados, obrigando os mais altos quadros da TAP a usar a velha frota, sabendo que isso serve sobretudo para tirar um peso de cima dos políticos que tutelam a companhia, mesmo que não alivie a fatura a pagar por nós, diz muito sobre os contribuintes que somos. Merecemos tudo o que nos acontece, porque trocamos as decisões racionais pelas emocionais. É essa a raiz do populismo.