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Há no elenco do novo governo uma notícia agridoce. Infelizmente tiveram que passar quase 50 anos desde o 25 de abril para que houvesse um governo com absoluta paridade. Há tantas ministras, como ministros. Tardou, mas chegou.
Acresce que a estrela em ascensão deste Executivo é uma mulher. Mariana Vieira da Silva já se tinha afirmado por mérito próprio num governo maioritariamente masculino e com vários ministros de Estado. Aparece agora com um poder reforçado pelo primeiro-ministro que a coloca, sem margem para qualquer dúvida, como uma vice-primeira-ministra de facto.
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Agora não se pode parar. A notícia é boa, é ótima mesmo, mas não significa que o mundo mudou. Ainda há um longo caminho para percorrer. Em Portugal a remuneração média das mulheres é 14% mais baixa que a dos homens, a diferença sobe para 25% quando se trata de quadros superiores e 26% quando se trata de trabalhadores com formação universitária.
Como se esta discriminação no mundo do trabalho não fosse suficiente, temos de nos lembrar que o salário que ganhamos ao longo da vida, através dos devidos descontos, é que determina a nossa reforma. Ora, isto significa que, quando homens e mulheres chegam à idade de parar de trabalhar, a situação ainda piora mais um bocadinho e elas recebem menos 28%.
Para percebermos como chegamos até aqui, convém lembrar igualmente que, em Portugal, as mulheres são a esmagadora maioria das pessoas que deixam de procurar ativamente trabalho para assegurarem as tarefas domésticas ou cuidar da família. Parece impossível, mas é verdade, quanto mais dão, menos recebem.
Está nas mãos de todos nós acelerar a mudança para que exista uma verdadeira igualdade de género no nosso país, que não se fique pela boa notícia de termos pela primeira vez um governo que tem tantas mulheres como homens.
A igualdade é pelouro de uma outra ministra, Ana Catarina Mendes, estreia no governo e tem aqui uma área onde pode brilhar politicamente. Será capaz? Esperemos que sim!