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À minha frente está pendurada uma máscara cor-de-rosa, com uma etiqueta a dizer "Nexcare 3M". Foi a minha mulher que a comprou em Taiwan, há seis anos, quando percorremos a ilha em passeio. Na altura, foi a forma que ela encontrou para ficar parecida com as miúdas giras lá do sítio. Tem-lhe dado muito jeito agora para ir ao supermercado.
A verdade é que não havia um vírus que ameaçasse a Ásia por esses dias. Coronas e influenzas andavam calmos e, no entanto, a maioria das pessoas usava máscara nas ruas de Taipé. E nem é uma capital assim tão poluída como as cidades chinesas, se é essa a dúvida. Faziam-no, como fazem habitualmente, porque têm medo de apanhar alguma coisa. Seja ela qual for. E nós achávamos cómico.
Nos últimos dias tem havido debate sobre o uso de máscaras, como forma de evitar contágios. E, paralelamente, a curiosidade pelo facto de a epidemia do Covid-19 ter começado no Extremo Oriente e ser, precisamente, lá que a situação está a ser mais rapidamente controlada. Não sei do que é, mas a verdade é que os povos de Taiwan, China, Coreia do Sul e Japão há muito têm isto em comum: a mania das doenças, a obsessão pela proteção individual e um frio distanciamento natural. Porventura, por necessidade. Por viverem em aglomerados de enorme densidade populacional. Por histórias antigas, talvez. Nestes países a máscara é, há muito, um adereço.
Nós, europeus do sul, somos o contrário. Exibimos bigodes. Adoramos beijocas, grandes bacalhaus e abraços apertados. E agora? Viramos, de repente, mascarados compulsivos e hipocondríacos militantes? Na altura, gozei com a máscara da minha mulher, mas há duas semanas que não saio de casa de cara destapada.
* Assessor de comunicação